quinta-feira, 30 de agosto de 2012

SEMINÁRIO COM KAZUO IGARASHI NA ARGENTINA


O Shihan Kazuo Igarashi  é sétimo dan da Aikikai. Foi aluno de Yasho Kabayashi desde 1973, como uchideshi. A partir de 1978 dá pequenos seminários na Suécia e na  Finlândia. Seu dojo fica localizado em Hashimoto, no Japão desde 1983.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

SUPERANDO DESAFIOS


Um milionário promove uma festa em uma de suas mansões e em determinado momento, pede que a música pare e diz, olhando para a piscina onde cria crocodilos australianos:


- Quem pular na piscina, conseguir atravessá-la e sair vivo do outro lado ganhará todos os meus carros. Alguém se habilita?

Espantados, os convidados permanecem em silêncio e o milionário insiste:
- Quem pular na piscina, conseguir atravessá-la e sair vivo do outro lado ganhará meus carros e meus aviões. Alguém se habilita?
O silêncio impera e, mais uma vez, ele oferece:
- Quem pular na piscina, conseguir atravessá-la e sair vivo do outro lado ganhará todos os meus carros, meus aviões e minhas mansões.
Neste momento, alguém salta na piscina.
A cena é impressionante. Luta intensa, o destemido se defende como pode, segura a boca dos crocodilos com pés e mãos, torce o rabo deles. Nossa!!! Muita violência, muita emoção. Parecia filme do “Crocodilo Dundee!” Após alguns minutos de terror e pânico, sai o corajoso homem, cheio de arranhões, hematomas e quase despido.
O milionário se aproxima, parabenizá-o e pergunta:
- Onde deseja seja lhe entregue os carros?
- Obrigado, mas não quero seus carros. Estou bem com o que tenho.
Surpreso, o milionário pergunta:
- E os aviões, onde quer que lhe entregue?
- Obrigado, mas não quero seus aviões. Aliás, tenho pânico de altura!
Estranhando a reação do homem, o milionário pergunta:
- E as mansões?
- Eu tenho uma bela casa, não preciso das suas. Pode ficar com elas. Não quero nada que é seu.
Impressionado, o milionário pergunta:
- Mas se você não quer nada do que ofereci, o que quer então?
- Apenas encontrar o imbecil que me empurrou na piscina!!!


Moral da Estória: Somos capazes de realizar muitas coisas por nós mesmos, que sequer julgamos capazes. Às vezes, precisamos apenas de um empurrãozinho...

(AUTOR DESCONHECIDO)

Referências: Dr. Camilo
Imagens: divulgação

PRINCÍPIOS DO DAITO RYU AIKIJUJUTSU


( Por Katsuyuki Kondo*)


REI ( 礼 )


Antigamente, palavras como “Burei” (que significa desrespeitoso) e “Shitsurei” (que significa um comportamento imperdoável) eram usadas. 


Uma pessoa que faltasse com REI, ou seja, que fosse desrespeitosa, poderia estar pondo sua vida em risco. 


Por exemplo: Antigamente alguém deveria ter certeza de colocar sua espada ao seu lado direito quando convidado para entrar em uma sala e sentar-se. Se ele pusesse sua espada ao seu lado esquerdo, ele poderia sacá-la em qualquer momento. Por isso era desrespeitoso para alguém colocar sua espada em ao seu lado esquerdo. Isso significava ser “Shitsurei”, ou agir de forma indelicada. A espada no lado esquerdo demonstrava sua intenção em lutar com outra pessoa. 


Certa vez ouvi dizer que uma pessoa foi atacada, cortada e morreu, pois sua espada estava ao seu lado esquerdo e aconteceu dela tocá-la por engano. Desta forma, este tipo de comportamento desrespeitoso pode por em perigo a vida de alguém. 



METSUKE (塩山を目付け) 


Os caracteres significam “onde fixar o olhar”. Eu acredito que isso inclui todas as coisas, como o poder dos olhos penetrantes, que controla os outros, em seu interior, e a capacidade de ler a mente dos outros. O poder dos olhos. É o melhor jeito de controlar os outros sem lutar. 


Devemos praticar com este principio em mente. A principio, eu penso que “Metsuke” é um tipo de prática onde você estuda, prevê e distingue os movimentos do oponente pela fixação dos olhos. Naturalmente, neste tipo de treino, várias coisas, como Kokyu-ho, estão incluídas para alcançar esta finalidade.



MAAI (間合い)


A distancia de combate. No Japão antigo as armas de fogo não eram usadas, mas o arco e flecha eram. E havia MaAi para lanças, espadas e finalmente, o mais curto dos MaAi, a distância para Jujutsu (luta desarmada).


A questão sobre aumentar a distancia entre você e o seu oponente, e como reduzi-la, constitui um assunto muito importante nas artes marciais. Como assumir MaAi, como encurtar e como aumentar a distância. Muitas vezes você pensa que está na distância adequada, que seja apropriada ao seu oponente. Mantenha isto predominante em sua mente quando estiver praticando.



KOKYU (呼 吸)


KoKyu consiste de dois caracteres que significam “expirar e aspirar (inspirar)”. Então expirar é muito importante e aspirar é um treino para expirar. Nos não vivemos sem aspirar, por isso é feito naturalmente. Assim, é importante que saibamos como expelir o ar do corpo. Também ensinamos, no que diz respeito ao KoKyu que expirar é “Yo” ou “Yang” e aspirar é “In”ou “Ying”.


Por exemplo: Quando visitamos santuários Shinto e templos Budistas vemos ambos os reis Deva nos dois lados do portão do templo. Se olharmos para suas bocas, um tem a boca bem aberta e o outro a boca firmemente fechada. E nos santuários Shinto existem cães guardiões de pedra na entrada do templo, com a boca aberta e fechada. Dizem que representam a expressão “AUM”. O de boca aberta é o “A” e o de boca fechada é o “UM” A expressão “AUM” é certamente uma manifestação “Yan”.


Quando aplicamos as técnicas de fato, emitimos um “KiAi”. Ou a fim de usar toda a nossa força, fechamos nossa boca e produzimos o som “UM” e seguramos nossa respiração. Isso é Yang. Quando aspiramos é Ying. Se praticarmos a respiração suficientemente, estaremos aptos a perceber, e prever, o movimento do oponente.


Os estudos de “KoKyu Ho” tem sido objeto de estudo nos tempos modernos como um método de saúde. Respiração apropriada é um principio muito importante nas artes marciais.



KUZUSHI ( 崩し)


A quebra do equilíbrio. Isso inclui “atemi” e outras coisas como “KiAi” que são naturalmente parte do conceito. Kuzushi, no Daito Ryu, inclui a idéia de “AiKi”. Isto é como emitir energia “AiKi” e quebrar o equilíbrio do oponente. Este princípio deve ser  nfatizado.



ZANSHIN (残心)


Os caracteres utilizados significam “permanecer com o espírito”. Eu já ouvi referencias a “ficar com o corpo”, todavia, não direi “ficar com o espírito”, mas, “dar tudo de si para usar toda força e espírito, através de enfrentar e responder à situação a qualquer momento. Eu entendo o termo por “dar tudo até que não haja nada mais para dar”.


Para resumir, os seis princípios básicos são: Rei, MeTsuKe, MaAi, KoKyu, Kuzushi e Zanshin.


Sensei Kondo é aluno direto de Tokimune Takeda, filho de Sokaku Takeda



*Katsuyuki Kondo – Sensei em Daito-Ryu Aiki-Jujutsu, Kenjutsu e Shodo (caligrafia)


* Os princípios acima descritos aplicam-se às artes marciais japonesas em geral – Aikidô, Judô, Karatê, dentre outras.

Referências:

Aikido Journal
Blog Aikido Impressões, 28/09/2011

Imagens: divulgação

KENJUTSU

Não me empunhe por orgulho
Não me desembainhe sem motivo
Não me guarde sem honra 
(Canção da espada)



KENJUTSU significa literalmente , "arte da lâmina" ou "técnica da espada". Para o samurai, o sabre não era apenas uma arma, mas um símbolo de honra e bravura. O treinamento do samurai começava ainda  criança, quando eram mandados para as escolas de kenjutsu para para aprender:

  • O manejo técnico e habilidoso das armas da época: daisho ( 2 sabres: o katana e o wakizashi), naginata (alabarda) e kyu (arco e flecha);
  • A arte da estratégia;
  • Disciplina, auto controle e formação de caráter;
  • Os rituais de conduta e  etiqueta.
Para fazer parte da classe guerreira, primeiro se exigia berço: apenas descendentes de nobre poderiam portar 2 espadas. Além disso o samurai ainda tinha que se orientar pelo código de ética, o bushido ( caminho do guerreiro).

Com o advento das armas de fogo,  e a abertura do Japão ao ocidente e a subsequente proibição de se portarem espadas, a maioria das mais de 200 escolas de kenjutsu encontrou seu fim. Poucas continuaram praticando seus ensinamentos em segredo familiar. Uma das formas de preservação foi - apos a 2ª Guerra Mundial de um novo esporte: o Kendo ( caminho da espada).  Provendo-se de recursos como bogus(armaduras) e shinai(espadas de bambu), o Kendo permite que as técnicas ensinadas na época dos Samurais sejam ainda praticadas, porém, com uma considerável limitação quanto aos estilos e técnicas exploradas mais profundamente no Kenjutsu. 

Sensei Kuroda


O Treinamento

Exitem diversos estilos de kenjutsu e sua pratica  varia de acordo com o estilo em questão. Na maior parte dos estilos o treinamento se baseia em katas (formas pré-arranjadas). Em alguns estilos, a prática dos katas é complementada por treino de luta utilizando bogu
No treinamento de katas, normalmente, é utilizada uma espada de madeira semelhante a uma katana, chamada bokken ou bokuto. Cada estilo de kenjutsu costuma impor medidas específicas de comprimento, largura e curvatura para o seu bokuto.
Já no treinamento de luta, os dojos que o fazem utilizam alguma forma de proteção para evitar lesões graves. A maior parte utiliza o mesmo equipamento de proteção do kendo, composto por bogu (armadura) e shinai (espada de bambu). Outro equipamento que também pode ser utilizado para lutar é o fukuro-jinai, uma espada semelhante à shinai do kendo, mas com o mesmo comprimento que uma katana e construído a partir de várias tiras de bambu cobertas por um revestimento de couro.
Alguns estilos praticam também corte (tameshigiri e suemonogiri) com shinken(espada de metal com corte).
Cabe lembrar que cada estilo tem características próprias de treino. O praticante já começa o combate com a espada desembainhada. Existem tantas sutilezas no desembanhar do katana, que existe uma arte marical própria para isso: o IAIDO. 

Golpes como o corte de baixo para cima, horizontais, apoiar o dorso da lâmina com as mãos, lançar a espada, ajoelhar-se enquanto golpeia e outras formas antigas e que não foram incluídas na elaboração do kendo esportivo são aplicados a partir das quase 60 posturas de combate. Destaque importante é o estudo do combate com duas espadas, mais conhecido nos filmes e livros sobre o lendário samurai Miyamoto Musashi.

No Brasil e na America do Sul, o Kenjutsu tem sua representação pela Confederação Brasileira de Kobudo (CBKO) e o Instituto Niten, onde se encontram escolas antigas como o Hyoho Niten Ichi Ryu Kenjutsu do samurai Miyamoto Musashi ; o Suiyo Ryu  (do Lobo Solitário) ; o estilo mais antigo de todos , o Tenshin Shoden Katori Shinto Ryu Kenjutsu , o Kassumi Shiinto Ryu Kenjutsu e outros.
Seu maior divulgador na América do Sul é o mestre Jorge Kishikawa, oriundo do kendo. O sensei Kishikawa foi por diversas vezes campeão nacional de kendo e já conseguiu um 4º lugar no mundial de kendo. Atualmente se dedica ao estudo do Kobudo (armas) japonês e do kenjutsu do Niten Ichi Ryu. Existem outros praticantes de kenjutsu espalhados pelo Brasil, mas são pouco conhecidos.

Regras da competição

Os torneios são realizados de acordo com os regulamentos da CBKob e permitem aos atletas combaterem e escolherem as suas armas. Os atletas podem optar por combater com a espada menor apenas, espada maior, ou com as 2 espadas.

O combate é realizado em uma quadra de 10m x 10m sendo que há o en (círculo) no seu interior , semelhante a arena do sumo. O atleta obtém a pontuação com o yuko (bom golpe) equivalendo a meio ponto , ou com o ippon (golpe certeiro) o equivalente a 1 ponto. São necessários dois "yuko" ou um "ippon" para se vencer nos torneios oficiais. O tempo oficial é de 3 minutos.
Esta forma de pontuar advém dos próprios combates dos antigos samurais com espadas, quando era raro, senão impossível , vencer o adversário com um só golpe certeiro. Além de que, minar o adversário pouco a pouco fazia parte de muitos estrategistas da época dos samurais.
O atleta que, durante o combate de kenjutsu, deixa parte de seu corpo fora do en, consagra o "yuko" ao seu oponente, raciocínio comparável ao sumô (no caso do sumô, sair do círculo consagra ippon ao adversário).


Manoel FELIPE Mesquita de Albuquerque
Médico Veterinário, acredita que o progresso acompanha a prática;
 que o bem pode vencer o mal e que aquilo que é realmente bom nunca morre



REFERÊNCIAS

WIKIPEDIA
Aizen

Imagens: Divulgação

Se vc gostou deste artigo, vai gostar também de:
KOBUDO JAPONES
NAGINATA
Esgrima e Espadas I
Espadas Chinesas

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

PAULO COELHO E O AIKIDO


Abaixo texto publicado por Paulo Coelho, escritor renomado que praticou Aikido. Já me tinha sido enviado pelo amigo Dagmar, instrutor de Systema, mas recentemente  revi este material no site do Instituto Sul Brasileiro de Aikido




Abaixo texto publicado por Paulo Coelho, escritor renomado que praticou Aikido.


Criado pelo japonês Morihei Ueshiba (1883-1969), o aikido é a única arte marcial que pratiquei, e na minha opinião é uma das mais interessantes. Ano passado publiquei nesta coluna alguns dos textos de Ueshiba, coletados por seus discípulos durantes suas conversas. Este ano, quero desenvolver livremente algumas de suas idéias a respeito dos confrontos pelos quais temos que passar: 


1) Quem tem um objetivo na vida irá se defrontar com uma força oposta; para eliminar esta força, é preciso aprender como fazê-la trabalhar a seu favor. 

2) Um verdadeiro guerreiro jamais sacrifica seus amigos para derrotar o adversário; portanto, ele tem que aprender a detectar e resolver os problemas antes que eles se manifestem. 

3) A melhor maneira de enfrentar-se com o adversário é convencê-lo da inutilidade de seus gestos. O guerreiro mostra que seu objetivo não é destruir nada, mas construir sua própria vida. Quem caminha em direção ao seu sonho busca a harmonia e o entendimento antes de qualquer coisa, e não se importa de explicar mil vezes o que deseja, até ser escutado e entendido. 

4) Não fique olhando o tempo todo os problemas que estão no seu caminho: eles terminarão por hipnotizá-lo, impedindo qualquer ação. Tampouco fique concentrado demais nas suas próprias qualidades, porque elas foram feitas para serem exibidas. 

5) A força de um homem não está na coragem de atacar, mas na capacidade de resistir aos ataques. Desta maneira, prepare-se - através de meditação, exercícios, e uma profunda consciência de seus propósitos - para agüentar firme e continuar no caminho, mesmo que tudo e todos à sua volta procurem afastá-lo de sua meta.

6) Em situações extremas, principalmente quando você já está quase perto do seu objetivo, o Universo irá testar os seus propósitos, exigindo o máximo de sua energia. 

7)Esteja preparado para grandes provas, à medida que o sonho se torna realidade. 

8) Não olhe sua vida com ressentimento, e esteja preparado para aceitar tudo aquilo que os deuses lhe ofereceram; cada dia traz em si a alegria e a fúria, dor e prazer, escuridão e luz, crescimento e decadência. Tudo isso faz parte do ciclo da natureza - portanto não tente reclamar ou lutar contra a ordem cósmica. Aceite-a, e ela o aceitará.

9) Se o seu coração for suficientemente grande, ele será capaz de acolher todos aqueles que se opõem ao seu destino; e uma vez que você os tenha acolhido com amor, será capaz de anular a força negativa que seus adversários traziam. 

10) Quando perceber que um adversário se aproxima, avance e lhe diga palavras delicadas. Se ele insistir na sua agressividade, não aceite a luta a não ser que ela vá lhe acrescentar algo; neste caso, utilize a força do oponente, e não gaste a sua energia. 

10) Saiba o momento correto de usar cada uma das quatro qualidades que a natureza nos ensina. Dependendo das circunstâncias, seja duro como um diamante, flexível como uma pena, generoso como a água, ou vazio como o ar. Se a origem do seu problema é o fogo, não adianta contra-atacar com mais fogo, porque isso só irá aumentar o incêndio: neste caso, apenas a água será capaz de combater o mal. Nunca o problema pode lhe ensinar como reagir a ele - só você tem poder para isso.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

AIKIDO SHUGYO -Harmonia do Confronto




Aos admiradores e praticantes de artes marciais e, especialmente, de Aikido,eis  um interessante livro: Aikido Shugyo - Harmonia no Confronto, de Gozo Shioda, Pensamento. 192p. O autor, um dos mais talentosos alunos de Morihei Ueshiba, descreve sua carreira e filosofia nessa arte. Apresenta episódios de sua vida como jovem discípulo de Ueshiba, nos anos 30, e suas experiências durante a guerra e o pós-guerra, seu encontro com o boxeador  Mike Tyson, quando o mesmo visitou seu dojo. Apresenta suas idéias sobre a psicologia das artes marciais e a sobrevivência em um mundo cheio de incertezas e contradições.

A Pratica Honesta




O texto que segue é tradução feita pelo Blog Shoshinsakuba (Aikidô de Curitiba) de um ensaio de Jim Zimmerdahl, Honest Practice, publicado originalmente em inglês no site AikiWeb . Tivemos acesso ao mesmo pelo blog Aikido Impressões. A leitura é interssante e vale a pena ler ate o final



Um ladrão




Estou praticando com um outro aluno. Alguém esta conduzindo o treino, tentando fornecer informações e práticas necessárias para, eventualmente, "possuir" a técnica do momento.

À minha esquerda tem uma faixa-branca, um novo aluno faixa-verde tem praticado conosco há alguns meses. O faixa-branca está tendo problemas com a técnica. O faixa-verde começa a ajudar, dizendo a o faixa-branca como corrigir o problema. Soa familiar? Em pouco tempo o faixa-branca passa a ter uma sessão de treinamento particular – muita conversa com pouca ação. O instrutor auto-declarado é um ladrão! O faixa-verde tem a melhor das intenções, mas arrancou o aluno do treino, do professor do aluno, e o tempo da prática. Além disso, faixa-verde raramente ensina. Eles têm muito a aprender e até mesmo com as melhores intenções, pouco a ensinar.

Um impostor

Estou praticando com outro estudante. Alguém está conduzindo o treino, tentando fornecer as informações e práticas necessárias para, eventualmente, “possuir” a técnica do momento.

O instrutor explica um conceito e um estudante à minha esquerda faz uma pergunta. Ele começa a frase com: “Então você quer dizer que …” com uma reformulação do que o instrutor já disse. Dá para notar que a questão não é uma pergunta honesta porque carrega uma expressão de dúvida. O aluno não quer saber a resposta. O estudante queria o reconhecimento pela compreensão, pela participação. Este estudante está fingindo estar interessado no que o professor tem a dizer, mas realmente quer ser percebido como alguém com conhecimento. O ego está no comando.

Outro aluno faz uma pergunta. O instrutor responde à pergunta, mas dá para ver que o aluno não está satisfeito com a resposta. O estudante reitera o que um instrutor anterior declarou. Este aluno quer que o instrutor (e os outros alunos) saibam que existem outras opiniões sobre como isso deve ser feito. Este estudante está fingindo contribuir com informações adicionais, mas na realidade, ele tem dúvidas sobre o instrutor. O ego está no comando.

Começamos a prática. Foi passada uma série específica de movimentos e todo mundo faz apenas o que foi pedido. Depois de um tempo uma dupla de estudantes começa a mudar o que estão fazendo. Outro par está parando para discutir cada sucesso e fracasso, e todo mundo acha que eles são muito ativos e participativos. Bem, sim, eles são. Mas cada um tem sua própria “agenda”. Eles estão se colocando como estudantes interessados, mas, na verdade, estão interessados em gratificação pessoal e imediata. Eles não estão praticando, pois eles estão se exibindo. O ego está no comando.


Uma vítima

Estou praticando com outro estudante. Alguém está conduzindo o treino, tentando fornecer as informações e práticas necessárias para, eventualmente, “possuir” a técnica do momento.

Um estudante à minha esquerda queixa-se de um problema com a técnica. O instrutor sugere uma solução e pede aos alunos para tentar novamente. O estudante tenta, exagerando o problema ao mostrar o quanto é difícil. O instrutor sugere outra solução. O aluno quer que a técnica perfeita apareça como um passe de mágica, sem esforço. Uke enfraquece o ataque para dar uma melhor chance ao Nage. Nage é mais capaz agora, e bem sucedido contra um ataque menos eficaz. Nage se sente melhor, enquanto a técnica sofre. Nage e Uke trocam suas posições. O praticamente que havia sido Nage ataca de modo que a técnica aplicada exige uma queda truncada. Quando o aluno reclama do excesso de força, Nage reduz o foco do ataque para poupar Uke. Uke finge a queda. A técnica sofre, o risco é removido, e a realidade desapareceu. O aluno pode ficar bem na fita (para alguns) sem se sentir ameaçado e sem incomodar ninguém. O aluno é uma vítima – uma vítima do desejo de obter algo sem dar nada em troca.

Um charlatão

Estou praticando com outro estudante. Alguém está conduzindo o treino, tentando fornecer as informações e práticas necessárias para, eventualmente, “possuir” a técnica do momento.

Quando a prática se torna mais difícil, fica trabalhosa demais para um estudante à minha direita. O aluno precisa de um copo de água. O parceiro desse aluno tem que esperar até a sua volta, e eles começam a praticar novamente. O aluno assume o papel de Nage. O parceiro é um bom Uke, atacando de forma sincera, mas o Nage não se oferece para ser Uke. O professor seleciona outra técnica e uma mudança de parceiros. O aluno assume novamente o papel de Nage. Depois de um tempo o professor grita: “Troquem as duplas” e o tal aluno precisa de outro copo de água. Lembro-me deste ser o aluno que sempre chega logo após o fim da faxina do dojô, na manhã de sábado. Este é também o estudante que teve que sair um pouco antes do projeto que estava planejado desde a semana passada. Mas esse aluno é um político de alto nível – um estudante maravilhoso de ter por perto, a menos que você exija alguém que esteja disposto a “trilhar o caminho (walk the walk)”.



Então, quem é esse aluno?

Provavelmente todos nós. O ladrão, o impostor, a vítima e o charlatão são a besta interior, o ego. Aquele pedaço de nós que está sempre em busca de gratificação, afago, moleza e reconhecimento.

Nós somos todos ladrões. Todos nós queremos o reconhecimento, por isso roubamos um pouco do tempo de todos para obtê-lo, mesmo que seja de alguém que ainda não sabe o que está acontecendo. E todos nós temos nossos joguinhos mentais quando somos o impostor.

Nossa mente é uma coisa maravilhosamente inteligente e enganadora. Ela chega a nos fazer pensar que estamos sendo honestos. Mas raramente é uma mente aberta. Nosso copo raramente está vazio. Nossos egos nos impedem de nos submetermos à vontade dos outros. Isso ajudou a sobrevivência da espécie, mas é um desastre no processo de aprendizagem.
Muitas vezes encarnamos o papel de vítima. A mente está sempre procurando o caminho mais fácil. Se acreditarmos no que sentimos, a mente vai nos fazer sentir que o caminho de menor desconforto e maior gratificação é a única opção. Mentimos para nós mesmos para justificar a mentira que compartilhamos com os outros. O charlatão é um ladrão muito hábil, que também é um impostor e se justifica pondo a culpa no mundo ou nos outros.

É terminal? Não mais do que a vida. Mas devemos estar preparados, porque todos nós somos alunos. Nenhum de nós está imune a nossa própria mente. Devemos sempre verificar os nossos motivos – verificar nossa verdadeira motivação quando agimos (ou reagimos), porque estas são apenas algumas das formas que a besta interior da “justificativa” vai assumir. Na verdade, enquanto você lê isto, você vai se lembrar de ter visto alguns desses alunos sobre o tatame. Mas você se lembra de vê-los no espelho? Não se sua besta interior está no comando.

Mas o Aikidô não é justamente a respeito disso? Nossa prática nos dá uma oportunidade de expor a fera, onde podemos identificá-la, desnudá-la, e esmagá-la até a morte. Então podemos calar a boca e praticar. Claro que ela vai estar de volta em outra forma, mas e daí? Esta é uma busca ao longo da vida inteira.

Jim Zimmerdahl


Referências:

Aikido Impressões

Shoshinsakuba

AikiWeb


Imagens: divulgação

O VISIONÁRIO JIGORO KANO - 嘉納治五郎

Este espaço é reservado para homenagear mestres de qualquer arte marcial ou esporte de combate que - mesmo sem saber- utilizaram os princípios do aikido em suas vidas e nos deram grandes lições. 


"Nunca te orgulhes de haver vencido um adversário, pois aquele que venceste hoje, poderá derrotar-te amanhã. A única vitória que se perdura  é aquela que se conquista sobre a própria ignorância. Quando verificares - com tristeza - que não sabes nada, terás feito o primeiro progresso no seu aprendizado." (Jigoro Kano -  嘉納治五郎  )



A maioria das pessoas ouviu de falar de Jigoro Kano como o criador do Judo. Isso por si só já seria motivo suficiente para homenageá-lo. Entretanto... o sensei Kano foi muito mais do que isso. Pode-se dizer que foi o responsável não apenas pela transformação do ju-jutsu clássico em judo. A maioria das escolas de modernas de artes marciais(AMs) foram influenciadas por ele de várias formas. Algumas de suas lições:



  • O respeito e a pedagogia andam de mãos dadas. Antes do sensei Kano, era comum que alunos graduados (de diversas artes marciais) espancassem os colegas mais novos. Apenas os (poucos) mais determinados continuavam na prática. Kano mudou isso, abolindo tais praticas cruéis e fazendo com que a arte fosse mais difundida;

  • No dojo, todos são iguais (inclusive na vestimenta). Antes, nas AMs se praticava com a roupa do dia-a-dia. Kano percebeu que os estudantes mais humildes ficavam intimidados com as roupas dos mais abastados. Assim, fez com que todos usassem apenas a roupa de baixo. A evolução natural do sistema fez com a vestimenta evoluísse para o dogui de hoje. O sistema deu tão certo que passou a ser adotado pela maioria das AMs, como o karate, o aikido e até por outras AMs não japonesas;





O kata goshin jitsu, criado por Sensei Tomiki, que estudava judo e aikido

  • Modernização e transparência. A nossa atual forma de graduação, com faixas, kyus e dans foi uma criação do criador do judo. Os koryu (sistemas antigos) tinham uma forma complicada de graduação. Alguns sistemas chineses  diferenciavam o praticante apenas pelo tempo de pratica (praticant de 1 ano, praticante de 2 anos, etc) e nao pela habilidade adquirida. Sensei Kano  criou um método mais direto: kyus (classes) e dan (graus). Aprendizes portavam uma faixa branca (kyu) e os praticantes graduados (dan), uma faixa preta.  à medida que o tempo ia passando ( e a habilidade crescendo), a faixa branca ia naturalmente ficando escura,marron. Daí foi um passo para padronizar a graduação em  branca e marrom e preta. De novo o sistema foi adotado pela maioria das escolas. Os ocidentais depois começaram a adotar faixas coloridas;

  • Primeiro aprender, depois analisar para finalmente decidir. Aperfeiçoar sempre! Tudo o que hoje chamamos de tradicional já foi novo um dia. Estudando mais de um sistema de ju-jutsu, Kano adquiriu autoridade suficiente para rejeitar técnicas excessivamente perigosas e acrescentar outras, que além de eficientes eram seguras. Além disso, também trouxe técnicas de westler, como o kata-guruma. Isso fez do judo um sistema que aliava o conhecimento do ocidente com o do oriente. ao observar uma demonstração de aikido, exclamou: "Esse é o judo que sonhei, o meu budo ideal!". E mandou alguns de seus melhores alunos estudar com Ueshiba;

  • Optou por um futuro pacífico . Kano era um visionário. Ao conhecer o karate e  a personalidade do sensei Funakoshi,  lhe convidou - amigavelmente - para ensinar em  seu dojo. Foi o primeiro lugar onde Funakoshi ensinou. Hoje isso é uma pratica comum, mas naquela época, seria o equivalente a um duelo. Contam que Funakoshi era tão agradecido que reservou as tecnicas de kansetsu waza(chaves) e nague waza (projeções) apenas para seus alunos mais adiantados. Além disso, após a morte do shihan Kano, toda a vez que passava em frente ao Kodokan , tirava o chapéu e fazia uma prece silenciosa: "Se não fosse por ele eu não estaria aqui";

  • Tinha princípios e objetivos. Ao saber que  alguns de seus melhores alunos estavam se exibindo publicamente para ganhar dinheiro, não hesitou em expulsa-los. Mais tarde, ao saber que alguns deles fizeram isso motivados pela fome, os readmitiu;
  • A cultura e a boa educação são fundamentais. Kano era fluente em japonês, francês, alemão, inglês e espanhol. Fundou também o primeiro clube de baseball de Tokyo.


"Eu estudei jujutsu não somente porque o achei interessante, mas também, porque compreendi que seria o meio mais eficaz para a educação do físico e do espírito. Porém, era necessário aprimorar o velho jujutsu, para torná-lo acessível a todos, modificar seus objetivos que não eram voltados para a educação física ou para a moral, nem muito menos para a cultura intelectual. Por outro lado, como as escolas de jujutsu apesar de suas qualidades tinham muitos defeitos - concluí que era necessário reformular o jujutsu mesmo como arte de combate. Quando comecei a ensinar o jujutsu estava caindo em descrédito. Alguns mestres desta arte ganhavam a vida organizando espetáculos entre seus alunos, por meio de lutas, cobrando daqueles que quisessem assistir. Outros se prestavam a ser artistas da luta junto com profissionais de sumô. Tais práticas degradantes prostituíam uma arte marcial e isso me era repugnante. Eis a razão de ter evitado o termo jujutsu e adotado o do judô. E para distinguí-lo da academia Jikishin Ryu, que também empregava o termo judô, denominei a minha escola de Judô Kodokan, apesar de soar um pouco longo "
(Jigoro Kano)

O  velho mestre faleceu em  04 de maio de 1938, a bordo do navio  Hikawa Maru. A causa oficial foi  pneumonia .


Referências:

Bujin do Kai
Karateka net
Projeto Budo
Wikipedia

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Steven Seagal não consegue levantar Koichi Tohei

Steven Seagal tentando levantar seu primeiro professor de aikido: Koichi Tohei 





Mais uma foto rara disponibilizada pelo Aikido Journal. Na mesma podemos ver uma demonstração do famoso Sensei Koichi Tohei onde nada mais nada menos que Steven Segal o tenta levantar sem sucesso.

Referências:

Aikido Journal
Aikido Manaus


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

ESKRIMA/KALI


 "Nós não somos lutadores de bastão, 
nós somos lutadores."
(Ditado eskrimador)


Eskrima, escrima ,  escryma, arnis de mano (chicote com as mãos), kali (na lingua filipina kalis quer dizer espada) ou FMA (Filipino Marrtial Arts) são alguns dos nomes dados às artes filipinas  que têm ênfase no treino de luta com armas (principalmente bastão, espada e faca) e também ensinam habilidades de luta à mão vazia. O praticante é chamado de eskrimador ou kalista. No cinema os maiores divulgadores foram Dan Inosanto, Bruce Lee e Steven Seagal.

O origem e os criadores





Kris: em algumas delas o aço já era forjado com veneno
Em suas origens, o povo filipino estava envolvido em diversas guerras tribais. Os meninos, já na adolescência recebiam uma lâmina ondulada chamada de Kris . 
Diz-se que o metal de algumas delas era oriundo de meteoritos.
A partir da conquista espanhola, o povo das ilhas  Filipinas passou a ter senso de nação e as técnicas de armas aos poucos começaram a ser sistematizadas e polidas. Alguns historiadores falam que além de técnicas autóctones, foram incorporadas técnicas oriundas de Taiwan, Bornéu e Espanha (como espada e adaga) . O objetivo era um só: vencer e expulsar os invasores espanhóis. Para isso, só ficaram as técnicas que realmente funcionavam em combate. essa característica tornou o kali uma arte flexível, perigosa e versátil, apresentando saídas para os diversos tipos de agressão.
Os espanhóis logo perceberam o perigo e proibiram o porte de laminas. Assim, os kalista começaram a praticar com bastões de ratan ( um tipo de bambu).

Caracteristicas

Com um tempo limitado para ensinar, somente as técnicas que se provaram eficazes em batalha e que podiam ser ensinadas em massa sobreviveram ao tempo. Devido a essa metodologia, as FMA são erroneamente consideradas artes de luta "simples". No entanto, esta simplicidade refere-se somente a sua sistemática, não a sua eficácia. Ao contrário, por trás dessas técnicas básicas, reside uma estrutura bastante complexa e refinada de técnicas, as quais leva-se anos para dominar completamente.
Praticantes dessas artes são notadamente reconhecidos por sua habilidade em lutar com armas ou desarmados intercaladamente. Dominam o combate armado, em pé (panantukan, pananjakman, suntukan, sikaran, tadyakan/tadiyakan), chaves e projeções (dumog), e outras tecnicas diversas.  Existia um sistema filipino de primeiros socorros, cura e medicina herbal  desapareceu com o passar dos anos.


Armas
  •  
  • Bastão-  Treina-se com o bastão de ratan. O ratan é flexível, tem boa durabilidade, não soltam lascas e podem ser usados contra laminas. O Treino/combate feito com um bastão é chamado de solo baston. o com 2 de Double Baston. Na luta real se emprega o kamagong ou o facão 
  • Kamagong (madeira-ferro)- bastão de madeira muito resistente, mas inadequada para o sparring;
  • Espada y daga- Técnica herdada dos espanhóis. Algumas  vezes se treina com um bastão menor e outro maior;
  • Karambit/Korambit- faca curva inspirada nas garras do tigre;
  • Balisong- também chamado de canivete buterfly;
  • Facão- Pode usar o Bolo, o kukri ( facão semicurvado) ou o Machete. A medida que melhora, o eskrimador tende a praticar mais com o facão  
  • Hawakan- Tonfa
  • Tabak Tayok - Nunchaku;
  • Kris- Faca ondulada


Estilos/Sistemas


Existem mais de cem sistemas diferentes de eskrima, que podem ser classificados em três grupos principais: região do norte, região central e região sul das Filipinas. Os que mais se destacaram para  a mídia sao a Doce Paris, a Sao Miguel, a Águia negra, a Lameco Eskrima e o Kali Silat
No Brasil, os mais difundidos são:
Arnis maharlika - É ensinado desde 1976 pelo Punong Guro Herbert "Dada" Inocalla, que em conjunto com seu irmão Datu Shishir Inocalla, desenvolve um trabalho de resgate e utilização do arnis como terapia marcial filipina.
Kali silat ou sina-tirsia-wali - Kali é palavra filipina e silat de origem indonésia) Criado pelo norte-americano Paul Greg Alland, primeiro ocidental a ganhar o Philippines World Escrima Tournament - O estilo foi trazido ao Brasil pelas mãos do polêmico Paulo Albuquerque, hoje o aluno mais graduado de Greg na América Latina e criador do Kombato e da Federação Brasileira de Kali .



A eskrima na mídia


Manoel Felipe M de Albuquerque
Espalhando saber pelo mundo
A eskrima também se tornou bastante utilizada no cinema e pode ser encontrada em filmes de Bruce Lee e Steven Seagal.

Referências
ISMA
Wikipedia
Doce Pares Eskrima
Eskrimador
Paaralang Kastila
Filipino_Martial_Arts Imagens: Divulgação


Se vc gostou desse artigo, deve ler:
Silat
Krabi Krabong
Karambit: a garra do tigre

EXAMES E SUAS FINALIDADES


 (Por Patrick Augé*)


O texto a seguir demonstra a interessante forma de avaliação utilizada pelo   Yoseikan Aikido. Boa leitura!







Há dois tipos de ensinamentos. Um consiste em ensinar o que os alunos querem aprender, e o outro consiste em ensinar o que os alunos precisam aprender. O primeiro decorre de uma atitude de auto-serviço, o segundo a partir de um senso de responsabilidade.

Aqui vamos nos concentrar no segundo tipo de ensino, uma vez que é baseado no princípio de “bem-estar mútuo e prosperidade”, como ensinado pelo Sensei Minoru Mochizuki Kancho através de suas palestras e exemplo.

Primeiro temos de colocar os exames em seu próprio contexto: temos um caminho marcial cujo objetivo é proporcionar aos seus discípulos uma forma de transformar-se em sábios e fortes seres humanos. Com esse entendimento em mente, devemos pensar sobre a finalidade dos exames. Essencialmente, o exame deve ser educativo, ou seja, é uma oportunidade para os alunos aprenderem. Um professor não deve usar das faixas como um meio de estimular ou recompensar os seus alunos. Esta prática pode funcionar temporariamente, mas abre um precedente perigoso. Logo, logo, o professor fica sem “cenouras” e começa a concentrar sua energia no sentido de desenvolver um arsenal de truques para poder manter os alunos interessados. Eu acho que a quantidade de energia gasta não difere muito caso o professor tivesse escolhido a pensar e agir de forma mais responsável. Graduações nunca devem tornar-se um propósito.


Então, qual é o propósito dos exames de faixas?


Pelo que entendi, a classificação é a medida do nível de um estudante de proficiência e do progresso na sua formação com base nos três critérios seguintes: Shin-gi-tai (mente-técnica-corpo), com a expectativa de que o aluno continue a estudar e praticar diligentemente. O objetivo do teste (exame de faixa) é dar aos estudantes uma oportunidade de avaliarem-se sob stress. Uma vez que o aikido não tem competição, o exame é uma parte importante do treinamento. Este teste deve ser completado por períodos de prática intensiva, como kangeiko (treinamento de inverno) e shochugeiko (treinamento de verão).

Como um caminho marcial, o aikido fornece maneiras para treinar-nos a gerir a vida diária. Apenas quando somos expostos a um stress é que podemos aprender a lidar com ele. Se esse conceito for claro na mente do professor, será fácil de explicar para os seus alunos. Devido à natureza do aikido, este atrai pessoas que pensam com profundidade ou querem aprender como fazer. Na minha experiência, eu descobri que a maioria dos alunos entendem esse conceito e o mostram através do seu comportamento. É apenas uma questão de tomar o tempo necessário para explicar.

Aqui está como operamos: Budo é auto-defesa. Este estilo é muito rico em técnicas. A fim de dar o nosso máximo na exposição técnica aos alunos, podemos passar muito tempo em um certo tipo de técnica e suas aplicações, que é sempre precedida pela prática dos fundamentos. Cada aluno deve manter um caderno para registrar tudo o que ele acha importante. Nós não damos aos alunos um currículo escrito. Esta atitude é para desencorajar cursinhos.

Os requisitos básicos são cobertos durante as aulas regulares, os requisitos avançados durante as clínicas. O exame deve refletir a prática regular de um estudante. Isso incentiva o bom entendimento. No longo prazo, ele faz a diferença. Os alunos devem treinar-se no espírito de preparação. Se há um certo grau de incerteza, os alunos acabarão por se beneficiar. Os examinadores estão mais interessados na forma como o aluno lida com si mesmo em uma situação inesperada (o que revela seu caráter) do que em seu conhecimento técnico no momento específico. Quero dar os meus alunos a oportunidade de experimentar o valor educativo dos exames, algo que pode ser usado em outras áreas de suas vidas.

Deixamos todos os novos alunos saberem que podem ser testados uma vez por ano e que é preciso um mínimo de sete anos para shodan. Os candidatos são selecionados de acordo com o tempo, a frequência, o progresso e a sua atitude. À medida que subirem na classificação, os estudantes são esperados para mostrarem mais liderança através de seus exemplos dentro e fora do dojo.

Menos de uma semana antes do exame agendado, os candidatos selecionados são convidados a participarem de um pré-exame. Eles são lembrados da finalidade, etiqueta e procedimentos do exame.

Como no Japão, o exame normalmente ocorre no dojô principal, em um domingo, e pode durar o dia todo. Os estudantes são examinados e avaliados um por um por todos os professores presentes. O exame é gravado – Os candidatos a exames de dan devem escrever um ensaio sobre diversos temas -. Durante as semanas seguintes, os professores corrigem os alunos e enfatizam as áreas específicas que precisam ser melhoradas. Revejo a fita de vídeo e comparo as notas com os outros professores. Cerca de dois meses depois, os professores e eu nos encontramos, discutimos o caso de cada aluno, e decidimos quem deve ser promovido. Então eu faço os comentários para os alunos, geralmente durante uma clínica, e anuncio oficialmente os resultados. Os alunos são lembrados então que o teste é um processo contínuo e que não para com o resultado; que podem recusar a promoção, se eles não se sentem prontos para as novas responsabilidades; que a classificação só é boa enquanto os alunos permanecerem ativos (um estudante que se torna inativo por um ano terá que começar da faixa branca de novo se ele decidir voltar a treinar). Pode parecer radical, mas provou ser um bom tratamento preventivo contra absenteísmo crônico, uma doença comum em muitos dojos. Temos de compreender que um estudante que retorna após uma longa ausência, e está autorizado a utilizar a faixa mesmo quando ele deixou de treinar, define um mau exemplo para os outros estudantes, especialmente se o grau dele era alto. Interrupção de treinamento de um indivíduo é a prova de sua incapacidade de manter as prioridades. Os alunos que voltarem depois de uma longa ausência sabem o que esperar. Utilizamos este caminho por mais de vinte anos, ele exige esforço por parte dos professores e dos alunos, mas vale a pena.

Em relação à pressão sobre a relação professor-aluno, eu acho que os professores devem tratar os alunos como os pais tratam seus filhos. Há muitas coisas que um pai sabe e que uma criança não consegue entender. Um pai responsável irá certificar-se que, não importa quão impopular sua decisão possa ser, é no melhor interesse da criança a longo prazo. Mais tarde a criança vai entender, e isso irá estabelecer sua fundação para educar seus próprios filhos. Esta é a razão pela qual as palestras do professor e as suas atitudes podem levar a um grande impacto em seus alunos, especialmente se eles decidirem se tornar professores mais tarde.

Um professor deve sempre pensar nas conseqüências de suas ações. Ele deve evitar desenvolver relações muito estreitas com alguns alunos, assim como um pai não deve mostrar uma preferência por uma criança em particular. Torná-los “animais de estimação” pode ser como um tiro que sai pela culatra no momento em que os “animais de estimação” precisarem ser disciplinados. Ele também cria ciúmes entre os alunos e prepara o terreno para as hostilidades, políticas e rompimentos. A história do Aikido está cheia desses exemplos. Se o professor tem medo de perder alunos e promove-os por medo de que eles parem, torna-se um padrão perigoso. Como esses alunos são promovidos para cargos mais elevados, sem realmente ganharem suas promoções, tornam-se cada vez menos dóceis. Sua atitude dá um mau exemplo para o grupo, e o professor tem que tomar uma decisão difícil para o bem de todos os alunos. É muito mais fácil não promover um estudante que vai sair com um mal resultado do que acreditar na esperança de que o tempo vá consertar tudo. Perder um estudante pode ser difícil, especialmente para um novo professor, mas vai ajudar a manter muitos estudantes sérios mais tarde. Um maçã podre num cesto vai contaminar todas as outras maçãs, é por isso que se deve jogá-la fora assim que notar.


Também do ponto de vista estritamente de ensino (e o mais importante, creio eu), se um aluno sai com o resultado de ter sido negada a sua promoção, é a melhor prova de que ele não estava pronto para ser promovido. Mochizuki Sensei é um homem de honra, e ele trata a todos como tal. Para ele, assim como para muitos professores de sua classe, uma posição significa: “Este é o nível que eu espero você chegar, estudar e treinar diligentemente. Se não o fizer, então a sua classificação não terá nenhum valor, e assim será óbvio para todo mundo”. No entanto, valores como a lealdade foram desaparecendo com a degeneração da ética (até mesmo no Japão!), e hoje em dia podemos até mesmo ver as crianças usando faixas pretas.

Como temos vindo a refletir sobre a nossa responsabilidade em continuar a missão de Mochizuki Sensei, temos também observado a degradação da qualidade em muitas organizações de artes marciais e do desaparecimento da mensagem original. Se considerarmos, por exemplo, que um aluno pode reter 80 por cento do que ele aprendeu com seu professor, que ensina apenas o que ele aprendeu, e que seu aluno retém 80 por cento do mesmo ensinamento e assim sucessivamente, onde é que vamos chegar depois de algumas gerações? À atividade recreativa? Entretenimento Olímpico? Certamente não ao budô.

Isto é o que acontece quando estamos principalmente preocupados com a promoção e com questões organizacionais, em vez de realmente ensinar o budô. É por isso que devemos fazer como Mochizuki Sensei e seus ensinamentos de professor, presente em nossas mentes e ações. Por esta razão, nós estabelecemos padrões elevados. Nós promovemos apenas os nossos próprios alunos. Nós nos esforçamos para se certificar de que as faixas refletem o nível real dos mesmos. Nos velhos tempos, os alunos que se juntaram a um dojo já haviam recebido o treinamento ético em casa, assim o professor poderia continuar nesse ritmo. Hoje em dia, um professor deve começar do nada e ensinar valores com que a maioria dos alunos não estão familiarizados. Esta é a razão pela qual os alunos Yoseikan sob a nossa liderança que receberam tais ensinamentos fizeram grandes progressos em shin-gi-tai. Nós cometemos erros quando promovemos alunos que deram a impressão de estarem prontos, mas que depois seguiram caminhos diferentes. No entanto aqueles que perseveraram, muito compensa este inconveniente. E nós estamos ficando cada vez melhores ao ver a verdadeira natureza dos nossos alunos.

Relativas ao tratamento de Mochizuki Sensei nos exames no Hombu Dojo, ele se certificou de que iria ver todos os alunos a serem examinados. Todos os exames de kyu e dan tinham de ser tomadas no Hombu. O Shinsa (exame) geralmente acontece em uma tarde de domingo. Todos os shihan (professores seniores) e professores assistentes participam como examinadores. Alunos de áreas distantes no Japão não se importavam de passar um tempo viajando para serem testados na frente de Kancho Sensei. Faz parte de sua shugyo (formação austera). Após o exame, uma clínica foi dada enquanto os shihan comparavam suas anotações. Então Sensei Kancho anunciou os resultados. Sensei tem uma excelente memória e lembra de detalhes que poucas pessoas notam. Cada aluno iria receber um comentário pessoal. Testes com Kancho Sensei tinha um valor especial. Seus comentários eram simples, mas muito profundos. Nós não poderíamos esquecê-los! Ele poderia dizer a personalidade do aluno pela maneira como ele atuou.


Patrick Augé
Patrick Augé (7º Dan, Shihan, Yoseikan Aikido) é o diretor técnico da Federação Budo Yoseikan Internacional para América do Norte. Ele começou a estudar artes marciais em 1962 no judô. Viveu por sete anos como uchideshi de Minoru Mochizuki sensei na década de 1970 e está atualmente em Los Angeles.




Link para o original: AIKIWEB
Publicado em português em março de 2012 por :Aikido Impressões 


Imagens: Divulgação

O ZEN NAS ARTES MARCIAIS




"Embora se possa ler a respeito do Zen nas artes marciais, seu verdadeiro conhecimento é experimental.
Como explicar o gosto do açúcar? A descrição verbal não nos dá a sensação. 
Para conhecer o gosto é preciso prová-lo. 
A filosofia das artes não é projetada para ser pensada e intelectualizada; é feita para ser experimentada.
Assim as palavras, inevitavelmente, transmitem apenas parte do significado."
(Joe Hyams)

Joe Hyams | 1923-2008
Joe Hyams (1923-2008)
Para os verdadeiros mestres, as artes marciais são um  um caminho para atingir a serenidade espiritual, a tranquilidade mental e a mais profunda autoconfiança.

Baseado neste conceito, a proposta deste livro é ajudar o leitor a aplicar em suas vidas os princípios do Zen, segundo se projetam nas artes marciais, abrindo assim uma fonte potencial de força interior que talvez jamais sonharam possuir. 

O autor -no momento em que o escreveu - praticava artes marciais há mais de 25 anos e teve como mentores Bruce Lee (Jee Kune Do); Ed Parker ( Kempo Karate); Bong Soo Han( Hapkido); Jim Lau (Wing Chun); Yong Tae Lee ( Tae Kwon Do); Pat Strong (Karate) e Mas Oyama (Kyokushin) . Também praticou um pouco de aikido. é faixa preta em karate desde 1969.


 
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