“Considerando que o aikido é uma arte marcial não competitiva; que eu não estou interessado em sobrepujar ninguém; que não quero me exibir “para as outras crianças”; que não tenho a pretensão de ser um grande mestre e que, por último, no Senshin nem se usa faixa colorida… pergunto: Pra que teste de graduação?”
Nesses 8 anos de Senshin, já me deparei com perguntas assim algumas vezes. Agora, aproveitando a chegada de mais um teste, que será realizado no próximo dia 8/maio, vou dar alguns argumentos para aqueles que estão inseguros ou acham que fazer o teste não é legal.
1. Rito de passagem - Toda sociedade/comunidade marca momentos na vida de seus membros com cerimônias que representam não apenas uma transição particular do indivíduo, com também sua progressiva aceitação e participação na sociedade onde está inserido. Ou seja, há tanto o cunho individual quanto o coletivo. Exemplos abundam: batizados, formaturas, casamentos etc… O que nos leva ao segundo ponto:
2. Assumir responsabilidades - Sim, você já pratica há algum tempo e, assim como sua técnica evolui, sua responsabilidade também é progressiva. Para os iniciantes (kohais), é importante ter alunos mais experientes (sempais) como referência.
Alunos graduados melhoram o nível de um dojo. O problema com essa afirmação é que há dojos onde as graduações são praticamente distribuídas com o único intuito de fazer o dojo parecer melhor do que é. Sobre isso, o que podemos dizer é que no Senshin nos sentimos absolutamente responsáveis pelo progresso de cada aluno e jamais faríamos a sacanagem de oferecer uma graduação para alguém que ainda não está preparado.
Sem demagogia: nossos alunos são importantes demais para nós e para o dojo e, além disso, quando um deles está num seminário ou coisa parecida, ele é reflexo do que nós somos. Jamais deixaríamos que fizessem papel de bobos, pois os maiores bobos seríamos nós. No Senshin, não. =)
3. Prestação de contas - Na escola você faz provas, na faculdade também. No trabalho, é bem possível que você tenha de prestar contas de algum modo. Na maioria dos esportes, você treina e depois vai competir (uma forma de avaliação, não?). Se você faz tudo isso numa boa, por que não encarar mais essa prova e dar a seus instrutores a alegria de saber que você está fazendo a sua parte? =)
4. Ferramenta pedagógica para os instrutores - Para nós, instrutores, é importante observar como as pessoas estão evoluindo, pois essa evolução é um reflexo direto do que estamos ensinando e de como estamos fazendo isso. Se várias pessoas estão cometendo o mesmo erro, isso é um indicativo de que devemos prestar mais atenção a determinado ponto. Se todos têm dificuldade em alguma técnica específica, talvez estejamos praticando pouco essa técnica.
É claro que durante as aulas estamos atentos a cada um, mas no momento do teste, podemos nos concentrar em observar cada detalhe, fazer anotações e discutir a respeito. Sim, sempre após cada teste, eu e Clauber nos reunimos em particular e conversamos sobre tudo o que vimos no tatame.
5. Estar sob pressão - O momento do teste é tenso. Você fica mais cansado do que ficaria se estivesse treinando normalmente. Além disso, em geral, sua técnica piora um pouco. E isso justamente naquele dia em que todas as atenções estão voltadas pra você, inclusive com câmeras ligadas e, não raro, familiares na platéia. E sabe do que mais? Pode ter certeza de que tudo isso está na nossa conta.
Eu explico: a gente sabe que você ficará nervoso e que talvez erre ou esqueça de algo. Mas é justamente esse o cenário necessário para você aplicar o que anda aprendendo. No dia a dia, por mais “realidade” que tentemos imprimir nos treinos, você está sempre seguro, praticando com amigos numa situação absolutamente controlada. E o teste tira você dessa zona de conforto. Não estou dizendo aqui que a tensão do teste de graduação seja a mesma de uma situação de conflito real, mas ela é o mais perto disso que queremos levar nossos alunos.
6. Registrar sua evolução - Garanto: será bem divertido rever seus exames em vídeo no futuro.
7. Depois tem festa! – Seu esforço será recompensado. Depois de todo exame há uma festa… E vc não quer ficar de fora, né? Nós não queremos que você fique.
8. Evoluir – Você pode até discordar de todos os meus argumentos anteriores, por isso deixei este pro fim. É um fato: todo aluno sai do processo que inclui treinos e o teste em si, com o aikido melhor do que era antes.
Tharso Vieira
O texto foi escrito em abril de 2004 pelo sensei Tharso Vieira, que gentilmente concordou em ceder seu material. Sensei Tharso é jornalista e Dojo-Cho do Seichin Dojo e é ligado ao Shihan Yamada, do New York Aikikai.
Vez que foi postado pela primeira vez em outro site, solicitamos que quaisquer comentários a respeito sejam postados diretamente no site original do autor a fim de engrandecer as conversações a respeito
link para o artigo original Senchin Dojo: http://senshin.com.br/2010/05/a-importancia-do-teste-no-aikido/
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