segunda-feira, 17 de junho de 2013

Sobre meninos, homens e seus rituais de passagem

A enfermidade que impede muitos homens de crescerem.


Por diversos motivos, muitos homens hoje em dia estão confusos sobre sua real identidade. É cada vez mais  comum vermos homens agindo como meninos crescidos e pais agindo como filhos, com poucas percepções de maturidade, caráter e até mesmo virilidade.


Muito se atribui como causa disso: a falta de uma figura masculina, desintegração familiar, decadência social... Mas, algo que foi pouco abordado é a questão da ausência de rituais de passagem.


Típico de sociedades primitivas, um ritual de passagem tem como objetivo mor marcar a passagem de um menino para um novo mundo. Mundo esse aonde comportamentos antigos não serão mais admitidos. Onde é exigido do garoto uma demonstração de bravura, de maturidade. Ao final do desafio, o garoto era acolhido entre os homens como um deles. A partir daquele momento, o homem deixava para sempre as coisas de menino.


É um "pegador" mas não passa de um moleque... Tadinho...

Aí alguém pode questionar: " Por que tais rituais não existiam para as mulheres?" Porque, independente da sociedade, a menina mantem um ritual de passagem fisiológico: a menarca, que marcaria a transformação menina-moça do ponto de vista fisiológico. Ainda hoje nossa sociedade mantem os chamados bailes de debutante, marcando a passagem social da mulher. Além disso, desde cedo a menina é estimulada a cuidar, enquanto que o pirralho se acostuma a ser cuidado.



Em nossa atual sociedade, meninos têm que se virar sozinhos , com resultados em sua maioria desastrosos: sem adultos cuja autoridade respeitem, não raro criam seus próprios rituais marcados por sexo, delinquência e violência. Outros, pelo simples ato da rebeldia - sem causa específica - acabam enveredando por caminhos confusos que agridem seu próprio corpo. E ao atingirem certa idade, nada mais são que pessoas imaturas, sem a menor noção de um verdadeiro homem vela - da melhor forma possível - por aqueles a quem ama: pais, amigos, filhos e companheira. Correm o risco de se tornar eternas crianças que têm que ser perpetuamente protegidas e/ou vigiadas. Poucos conseguem driblar isso.


Nesse aspecto, a prática de uma arte marcial não competitiva como o aikido pode ser de grande ajuda. Quem vence, quem ganha  não importa. Ao contrário, perder uma luta, levar muitos golpes, ser arremessado,  em algumas situações pode ser até mais importante do que bater e vencer. Pois qualquer um se comporta da mesma forma quando sai vitorioso. Qualquer um, quando vence, mostra-se triunfante, seja homem ou menino. Mas só um homem é capaz de enfrentar uma derrota da qual não pode escapar, só um homem mantém a cabeça erguida quando apanha a ponto de ter que abandonar a disputa, aceitando que perdeu sem fazer disso o fim do mundo.

Cada vez que o praticante cai, cada vez que dá 2 tapinhas no tatame, ele é inconscientemente lembrado que pode morrer a qualquer momento, que é falível ,que não é o centro do universo e que a destruição, a revolta é coisa de criança.

Ao se preparar para um exame de faixa - um exemplo de ritual de passagem - ele participa de provações que testam sua resistência física e emocional. Seja demonstrando eficiência em se defender ou se sujeitando a todo tipo de ofensas pessoais sem desistir, eles participam das etapas de um ritual que, ao final, concederá o que mais deseja: ser aceito num novo grupo, ser tratado como um novo homem.

E uma das responsabilidades desse novo homem é manter seus sentidos  mais apurados, pois as lições vão sendo dadas de forma mais sutil (afinal de contas ele cresceu). Aos poucos ele vai descartando  qualquer tipo de força destrutiva que antes o impulsionava a crescer.  E - finalmente - ao perceber  que homens de verdade  constroem e preservam o que é bom - eliminando apenas o que existe de defeituoso- ele chega á grande conclusão: que as coisas de menino não têm mais espaço em sua vida.
Manoel FELIPE Mesquita de Albuquerque
Veterinário e estudante de artes marciais, está atualmente se preparando para um novo ritual




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