Como continuação da entrevista concedida ao Aiki Jounal por Sensei Tohei, ele mesmo desmistifica várias lendas atribuídas ao Kaiso (fundador do Aikido), sua personalidade e esclarece detalhes de sua promoção ao 10º Dan.
A personalidade de Morihei Ueshiba
AJ: Havia algumas personalidades notáveis no dojo em 1940 ou 1941 - alguém que pudesse mais tarde fazer um nome por si mesmo?
Tohei Sensei: Não havia ninguém assim quando cheguei. Não havia alunos e raramente algum uchideshi.
AJ: Quais foram as suas impressões mais fortes de Ueshiba Sensei?
Tohei Sensei: Ele me parecia um senhor muito simpático. Sorrindo, você sabe. De muitas maneiras, ele tinha uma personalidade bastante infantil.
AJ: Temos uns poucos documentos a respeito de O Sensei, mas é ainda muito difícil conseguir uma foto dele em seu dia-a-dia. Ele conversava sobre coisas corriqueiras, assuntos de todo o dia? Nas gravações que temos, ele quase que parece ser de outro planeta.
Tohei Sensei: Sim, entendo o quê você quer dizer. Certamente ele falava.
AJ: Ouvi dizer que algumas vezes, ele explodia de raiva de repente.
Tohei Sensei: Sim, isso acontecia com freqüência. Ele era gentil com as mulheres, todavia. Curiosamente, sua raiva nunca era direcionada em especial à pessoa com quem se supunha, estivesse zangado. Era como se ele estivesse apenas furioso consigo mesmo, incapaz de ou não desejando dirigir sua raiva ao objeto.
Uma vez um jovem aluno chamado Kurita notou que Sensei moveu-se um pouco em sua cadeira e foi ajustá-la para ele. Sensei explodiu e pediu para saber o que ele estava fazendo. O pobre rapaz não tinha idéia do que estava acontecendo até que eu expliquei que Sensei interpretou mal a ação, tomando-a como algum tipo de brincadeira.
AJ: Qual foi a atitude de O Sensei quando o senhor começou a basear seus ensinamentos nos princípios do ki?
Tohei Sensei: Ele ficou enciumado e disse às pessoas que não me dessem ouvidos. Ele dizia, "O aikido é meu, e não de Tohei. Não escutem o que Tohei diz." Ele aparecia no dojo dizendo coisas assim, especialmente quando eu ensinava um grupo de mulheres. A esse respeito, ele era bastante infantil, em sua objetividade e falta de sofisticação - muito espontâneo e inocente.
Pessoas ligadas a várias religiões vinham ao dojo e tiravam dinheiro dele , bajulando-o com nomes como "Morihei Ueshiba, o kami do aikido." Dificilmente ele gastava dinheiro consigo mesmo, mas parecia sempre estar sempre atrás de dinheiro porque continuava a desperdiçá-lo com pessoas como aquelas.
Recebendo o Décimo Dan
Fui o primeiro a ser oficialmente promovido a décimo dan. Originariamente, o oitavo dan era o grau máximo, mas Gozo Shioda , do Yoshinkan começou a promover muitas pessoas. Kisshomaru Ueshiba e o Sr.Osawa decidiram que seria útil para estabelecer mais firmemente o Hombu Dojo se criássemos o nono dan, que ofereceram para mim. Disse-lhes que eu achava desnecessário criar qualquer graduação mas alta do que as que já tínhamos, mas eles insistiram que isso ajudaria a fortalecer o Hombu Dojo, assim, finalmente concordei. Comemoramos a nova graduação em Ginza, um bairro de entretenimentos. Tanto Gozo Shioda como Kenji Tomiki estavam lá.
Enquanto estive nos Estados Unidos, entretanto, cinco outras pessoas foram também promovidas ao nono dan, e eles tentaram manter o fato em segredo de mim. Pensei que não havia nada a ser feito a respeito - coisas como essa iriam fatalmente acontecer com um professor como aquele - e decidi não me preocupar com isso.
Quando voltei a Tokyo, fiquei surpreso por encontrar Ueshiba Sensei me esperando no aeroporto - a primeira e única vez que ele havia feito isso. Quando chegamos em casa, ele me pegou para uns drinques e pouco depois eu sorria e começava a ficar alegre. Ele pareceu apreciar isso e até mesmo levantou-se para fazer uma dança tradicional que o divertia. Tudo isto, é claro, era porque ele pensou que eu devia estar irritado(irado?) com o fato dele ter promovido cinco outra pessoas ao nono dan, depois de me dizer que eu seria o único. Ao ver que eu não estava absolutamente irritado a respeito, ficou de bom humor outra vez.
Dois ou três dias depois, ele começou a me pedir que aceitasse o décimo dan. Eu disse, "Sensei, por favor não me peça para fazer isso. Se o senhor fizer de mim décimo dan, isso não terá mais fim!" Ele concordou com o meu pedido e assim permaneci nono dan por um tempo. Cerca de três anos depois, entretanto, pouco antes do câncer tomá-lo, ele me pediu outra vez. Disse "Koichi-chan, por favor, aceite o décimo dan." Me senti obrigado a concordar, porque seria desrespeitoso continuar a recusar e fazê-lo implorar para que eu o aceitasse.
Não demorou muito para que as pessoas dissessem que eu não era o único a receber o décimo dan. Para evitar problemas, ofereci-ma para devolver o grau, mas Mr. Osawa interveio e conseguiu que fosse colocado o numero "1" em meu certificado para atestar este, e não os outros, era oficial. Houve também uma grande festa no Akasaka Prince Hotel para celebrar a promoção.
Desde que me separei do Aikikai, ninguém mais foi admitido ao grau de décimo dan, mas tão logo parti, todos começaram a reclamá-lo.
AJ: O Senhor disse que ao começar a fundamentar os seus ensinamentos nos princípios do ki, O Sensei ficou enciumado e disse a todos que não lhe dessem ouvidos. Por outro lado, ele o promoveu a décimo dan. Quais eram suas intenções ao agir assim? Ele o estava reconhecendo ou não?
Tohei Sensei: Acho que ele me reconheceu e aceitou. Ele estava bem consciente de que não havia outro igual a mim na época, e provavelmente sentiu que caso não me promovesse, não poderia promover outros. Mas por possuir aquela qualidade infantil, ele não pode esperar e foi adiante, fazendo-o de qualquer maneira.
AJ: Como Kisshomaru (o atual Doshu) viu a questão?
Tohei Sensei: Em princípio, Kisshomaru pretendeu manter uma certa distância do Aikido. Ele teria dito, "Meu pai e pessoas como o Sr. Tohei vieram a este mundo para fazer o Aikido". Embora eu tenha nascido nesta família e com as suas tarefas, prefiro mais uma casa em uma colina da qual eu possa ir para o trabalho pela manhã e voltar à noite." Ele esperava assumir um papel mais administrativo como diretor geral da organização, mais do que ser um centro dos ensinamentos. Quando Ueshiba Sensei faleceu, o Sr. Nao Sonoda veio com uma proposta de fazer de Kisshomaru um diretor geral e de mim, o Segundo Doshu. No entanto, Ueshiba Sensei havia me pedido para fazer tudo o que pudesse por Kisshomaru, e assim fiz todos os esforços para que ele assumisse o papel que o colocava tanto como o centro dos ensinamentos como da administração, que é como finalmente funcionou.
Tive o privilégio de estar ao lado de Sensei durante as suas últimas horas. Disse-me, "Koichi-chan, é você? Quero pedir-lhe para, por favor, fazer aquilo que puder por meu filho." Respondi que embora eu nada tivesse com aquilo, ele não tinha nada com que se preocupar. "Está bem... Peço isto a você", ele disse, e pouco depois, deu seu último suspiro.
O Sr. Sonoda sugeriu muitas vezes que eu deveria me tornar o Doshu, mas eu estava determinado a cumprir minha promessa. Para permitir que Kisshomaru assumisse um papel estável , lancei a idéia de que ele deveria ser tanto o Doshu como o diretor administrativo. Ele expressou sua gratidão por meus esforços na época, mas cerca de um ano mais tarde, sua atitude mudou. Foi exatamente nessa época que ele foi aos Estados Unidos e começou a tirar minha foto das paredes dos dojos lá.
(Excerto do Aikido Journal, ed. #107 - Traduzido por Emy Yoshida - Dojo Central). Esta enrevista foi obtida através do site do Instituto Takemussu
Imagens:
http://www.gansekikai.org/a-promocao-de-10o-dan-de-tohei-sensei/
https://aikidoilhabela.files.wordpress.com/2008/11/tohei4.jpg
http://www.guillaumeerard.com/images/stories/aikido/articles/tohei-amdur/tohei-arms.jpg
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