O artigo de hoje foi encontrado no site do Daishizen Dojo e mostra a opinião do sensei Ted Howell, que é Dojo -Cho em PInelands, New Jersey. Ele próprio mostra sua decepção ao comparar o Aiki do Aikido e o Aiki do Aikijutsu. Boa leitura!
Treino Viril e o AIKIJUJUTSU
Ted Howell Sensei |
Vou compartilhar alguns pensamentos com vocês. Aqueles dentre vocês que tiveram a sorte de assistir ao Aiki Expo em Las Vegas, realizado em maio passado
(graças ao esforço de Stanley Pranin, um trabalho bem feito!) e viram as aulas de Sensei Katsuyuki Kondo, da principal linha de Daito-ryu Aikijujutsu, já sabem o quanto essa arte é incrível e dinâmica.
Esta foi uma oportunidade de treinar diretamente com o único detentor vivo do Menkyo Kaiden, diretamente outorgado por Tokimune Takeda (o Soke* anterior de Daito-ryu Aikijujutsu).
Eu, continuamente, sou surpreendido pelo conhecimento e sinceridade de Sensei Kondo. Ele é ao mesmo tempo severo e compassivo e represente o que cada americano sonha em encontrar num mestre. Fortemente aconselho a qualquer estudante sério de artes marciais japonesas a observar como um representante direto de Daito-ryu Aikijujutsu incorpora a essência do clássico e verdadeiro BUDO japonês.
Acredito que para, verdadeiramente, estudar AIKIDO como uma arte é importante pesquisar os aspectos histórico e técnico de seus ensinos. Compreendo que O-Sensei criou seu próprio BUDO. Mas a pergunta é: a partir de quê?
Não é mais um mistério que os aspectos técnicos do AIKIDO de O-Sensei foram inegavelmente o resultado de seu relacionamento e longa aprendizagem sob um dos mestres de artes marciais bem proeminentes de seu tempo, Sokaku Takeda. Compreendo ser difícil de imaginar O-Sensei, o fundados do AIKIDO, como um estudante. Mas como todos grande mestres marciais, ele criou o AIKIDO da própria visão do que lhe fora previamente ensinado.
Morihei Ueshiba era um artista marcial severo. Seu relacionamento e aprendizagem com Sokaku Takeda foi de cerca de vinte anos, estando bem documentado. Qualquer de vocês que assistiu ao Aiki Expo deve ter visto as fotografias fornecidas por Sensei Kondo que claramente mostram um certificado de Daito-ryu Kyoju Dairi (permissão para ensinar) pendurado na parede do Kobukan, Dojo do Fundador. Sabe-se, também, que um número de estudantes de O-Sensei antes da II Guerra Mundial, receberam graduações em Daito-ryu e não em AIKIDO como o conhecemos hoje. Em sua juventude, Morihei Ueshiba foi considerado um professor severo, assim como era Takeda. Só pela vida inteira de treinamento diligente e severo, pode a arte hoje conhecida como AIKIDO evoluir.
O Daito-ryu não é um “estilo duro” de AIKIDO. Ele é a antiga tradição secular que deu à luz ao AIKIDO e a numerosas outras artes.
Já ouvi shihans de AIKIDO dizerem que estudar Daito-ryu Aikijujutsu é uma regressão! Ouso divergir e intrepidamente declaro que experimentei de primeira mão a surpreendente abordagem do aiki encontrada no Daito-ryu que poucos aikidocas têm demonstrado possuir.
Deve ser observado que O-Sensei simplificou muito dos modos antigos devido ao tempo que era necessário para dominá-los. Mas sinto que algo foi perdido e acredito que essa simplificação excessiva criou seus próprios demônios. Acredito que é uma tentativa verdadeiramente vergonhosa de muitos aikidocas pensarem que podem desenvolver um nível de proficiência em AIKIDO que o Fundador só atingiu depois de uma vida inteira de treinamento contínuo.
O modo pelo qual o AIKIDO moderno é apresentado ao mundo é algo decepcionante.
Em maio deste ano, eu assisti ao Aiki Expo em Las Vegas e assisti demonstrações realizadas pelos maiores aikidokas do mundo. A natureza destas demonstrações variou das mais suaves às extremamente poderosas. E embora impressionante, a maioria do que observei envolvia uma falta de atitude marcial real. Os princípios básicos do AIKIDO (tais como movimento, timing e kokyu) estavam lá, mas sinto que em algum lugar do Caminho a natureza marcial do AIKIDO havia sido perdida.
Passei vinte anos treinando em artes marciais japonesas, chinesas e filipinas. Como um agente da polícia e instrutor de táticas defensivas, tive a oportunidade de experimentar muitos contatos físicos diretamente no dia a dia policial.
E sinto que muitos aikidokas enganam a si mesmos ao achar que um agressor descuidadamente atacará e se permitirá ser manipulado como uma boneca de trapo.
O AIKIDO foi fundado nos conceitos que promovem compaixão, paz, amor e harmonia.
Mas escutem cuidadosamente às palavras de Sensei Mitsugi Saotome: “Quando os fortes falam de paz as pessoas escutam, mas quando os fracos falam de paz, ninguém dá ouvidos” (livro AIKIDO e a Harmonia da Natureza). Esta declaração, acredito, diz tudo.
Como podemos, como aikidocas, promover o AIKIDO como uma arte de paz e harmonia se ele é praticado de modo a apenas nos proporcionar um sentimento falso de segurança?
Durante anos, ouvi outros artistas marciais criticarem o AIKIDO por sua falta de severidade e natureza prática. Novamente, argumentarei que a arte não é a culpada, mas a forma branda em que normalmente é praticada e ensinada trouxe tais críticas. Compreendo que as pessoas treinem AIKIDO por uma miríade de razões particulares. Mas por favor, não diga que você treina uma arte marcial a menos que a treine como tal. A arte foi projetada pelo Fundador na tradição do guerreiro japonês e qualquer abordagem que lhe exclua a natureza marcial não é AIKIDO. Isto não significa que um aikidoka deve vestir uma armadura antes do treinamento, mas digo que a mente, corpo e espírito são forjados por desafio e treinamento numa mentalidade marcial.
Em BUDO, as palavras de Morihei Ueshiba estão cheias de imagens do guerreiro japonês e da cultura de guerreiro. O Fundador escreveu: “Perceba que sua mente e corpo devem ser ocupados com a alme de um guerreiro, com uma sabedoria iluminada e uma cultura profunda”.
O Fundador escreveu: “O surgimento de um ‘inimigo’ deve ser pensado como uma oportunidade para testar seu treinamento físico e mental e ver se seu corpo realmente responde de acordo com os própositos divinos”. Mais do que isso, o pensamento do Fundador é extremamente claro quando afirma: “Sempre se imagine no campo de batalha sob o ataque feroz; nunca se esqueça deste elemento crucial de treinamento”.
Penso que o Fundador estava certo de que teve uma visão de paz. Mas esta visão veio da mente de um guerreiro. Um guerreiro que claramente indicou que a iluminação e o forjar do espírito são resultado direto de treinamento severo e diligente.
Retirar a natureza marcial do treinamento também retira a agudeza requerida para forjar a espada do espírito! Tenho treinado Daito-ryu Aikijujutsu desde 1997 e recentemente fui solicitado (ou melhor comunicado) por Katsuyuki Kondo a prestas exame para shodan em outubro deste ano.
Para mim, passar ou não, é secundário ao encarar os desafios que esta prova trará. Como um estudante sério de AIKIDO (atingi o posto de yondan da Aikikai, em maio deste ano), eu sinceramente acredito que meu estudo em Daito-ryu foi inestimável a meu entendimento de aiki.
Acredito que Daito-ryu e AIKIDO são duas partes feitas do mesmo tecido e que um complementa o outro. Se vocês pensam que o AIKIDO e Daito-ryu são mundo à parte, peço que reavaliem suas posições.
Finalizo com alguma palavras do antigo Soke de Daito-ryu Aikijujutsu, Sensei Tokimune Takeda, quando indagado sobre a diferença entre Aikijujutsu e AIKIDO. Ele declarou, “…tenho acompanhado técnicas de AIKIDO no Budokan do Japão mas vejo apenas demonstrações de técnicas macias. Elas não funcionam numa situação de luta real. Os ukes auxiliam se jogando e fazendo lindas quedas.É como se praticassem apenas técnicas para se jogarem. Se seu uke cai numa queda linda, isso faz sua técnica parecer boa. Em nossa prática, nós não precisamos que nossos ukes auxiliem executando lindas quedas. Nós treinamos a projeção dos ukes. Se projetados adequadamente, eles não precisam ajudar na queda. Eles simplesmente caem.”(Conversas com mestres de Daito-ryu).
Espero que essas considerações provoquem alguma reflexão. Se algum dentre vocês está interessado em recuperar a natureza marcial do treinamento, por favor venho ao seminário e experimente de primeira mão o que estou tão desesperadamente tentando explicar.
Para qualquer esclarecimento adicional, por favor não hesite em contatar o Instituto Aiki de Artes Marciais, que oferece instrução em AIKIDO, Korindo**, Hanbojutsu e Daito-ryu Aikijujutsu. Lembre-se de que nossos esforços não podem continuar sem o apoio forte desses sérios estudos de artes marciais japonesas tradicionais. Para aqueles dentre vocês que amam as tradições japonesas, mas não podem participar, a colaboração sob a forma de doações é sempre bem vinda. O Instituto Aiki de Artes Marciais é uma organização sem fins lucrativos que conta com estas doações.
Sempre de vocês, no BUDO.
Ted Howell – Dojo Cho, Pinelands AIKIDO, New Jersey.
* Soke significa herdeiro
** O Korindo é uma arte marcial japonesa moderna. Combina jiu jitsu classico, armas tradicionais japonesas e ensinamentos do sensei Ueshiba no início de seus dias. Existe quem considerre o Korindo apenas um estilo de Aikido.
** O Korindo é uma arte marcial japonesa moderna. Combina jiu jitsu classico, armas tradicionais japonesas e ensinamentos do sensei Ueshiba no início de seus dias. Existe quem considerre o Korindo apenas um estilo de Aikido.
2 comentários:
Acho que está um pouco além da compreensão dos que acham que arte marcial é só arte e não marcial. Esquecem inclusive que para se alcançar a arte e necessário técnica correta e atitude correta, o que deve ser coerente com a segunda parte de "arte marcial". Para se alcançar a verdadeira arte, trabalho duro só não basta, mas um plano adaptativo inteligente e informação correta são fundamentais. O que se vê são pessoas atrás de uma ilusão sem fundamentos reais, apenas uma idolatria à antigas histórias e promessas vazias de superioridade da consciência, o que em si só é uma grande contradição aos conceitos modernos de civilidade e moral. O DO japonês é muito mal compreendido no ocidente e também não deve ser usado por quem não tem conhecimento da cultura japonesa, e digo isso no amplo aspecto da cultura, com o que tem de bom e ruim. Só assim é possível entender o que o japonês entende por DO. Um bom exemplo é o jogo de rugby. Rugby Union é viril, mas há um enorme respeito pelo adversário. Vejam o que acontece no futebol, onde não há respeito pelo adversário.
Perfeito, mestre Gus Garcia!
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