A Shidoshi Simone Mogami |
Kinoichi ou mulher ninja é um tema cercado de fantasias. Muitos acreditam que a mulher ninja era apenas uma prostituta que sabia lutar. Para elucidar isso, preferimos trazer um texto de hoje encontrado no site Sho Kumo Ryu Ninjutsu e foi escrito por Simone Mogami. A Shidoshi Mogami é atualmente 2º dan em Ninjitsu Sho Kumo Ryu e 1º Dan em Karate Shotokan. Teve também vivências em Aikido, Judo e Brazilian Jiu Jitsu. A Shidoshi Mogami teve também treinamento tradicional em Kunoichi Jitsu, estudando com o Shidoshi Rodrigo Müller e autora do livro KUNOICHI-A MULHER NINJA (2011, Editora A3).
Como o texto é muito longo, optamos por dividi-lo em duas partes. Esta primeira parte mostra o que é uma kunoichi. As imagens foram incluídas apenas para fins de divulgação. Boa leitura!
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Kunoichi, na linguagem antiga dos Ninja, era a palavra usada para referir-se à mulher Ninja. Na verdade, o termo era utilizado quando se empregava uma mulher para executar uma missão na qual seria utilizado o Ninjutsu, dizia-se então “técnica da mulher Ninja” ou Kunoichi Jutsu.
Kunoichi é a fragmentação do kanji de mulher, não tendo significado próprio, formando uma espécie de código. Atualmente alguns escritores ao invés de usarem os caracteres hiragana, katagana e kanji significando a palavra Kunoichi, passaram a utilizar os ideogramas Onna Nin, dando referência literal de “mulher Ninja”. Essa forma de escrita, por elucidar claramente o código sem significado aparente, não carrega a essência do termo, pois se imaginarmos que o termo Kunoichi era uma mensagem secreta, para avisar que a ação não seria executada por um homem, mas sim com técnicas femininas, ao dar-lhe significado direto, a missão tenderia ao fracasso.
O ideograma para Mulher- Ninja |
Outra interpretação tem como referência os orifícios encontrados no corpo humano. Nos homens, são nove orifícios: olhos, narinas, boca, ouvidos, umbigo e ânus. Como a mulher possui mais um orifício, a palavra Kunoichi seria a união dos sons que dariam o significado de que o agente era uma mulher: Ku-no-ichi, ou seja, “nove e um” ou “nove mais um”.
O único registro histórico de uma Kunoichi está atrelado ao nome de Chiyome Mochizuki, uma mulher que seria originária da região de Koga e que esposou Moritoki Mochizuki. Quando seu marido foi morto em guerra, Chiyome Mochizuki fortaleceu Takeda Shingen montando o Kai Shinano Miko do Shuren Dojo, em que formava, de forma disfarçada, um grupo de guerreiros invisíveis aos olhos dos homens: as Aruki Fujo, o grupo de mulheres treinadas no Kunoichi Jutsu.
Popularmente as Kunoichi são relacionadas com a arte da sedução, mas é preciso atentar que a sedução era apenas um dos subterfúgios que poderiam ser lançado para que ela alcançasse sua missão.
A forma com que se ressalta o uso das técnicas Kunoichi concentradas apenas na sedução é uma visão ocidental distorcida sobre as características femininas e sobre a vida oriental. Se a Kunoichi fosse restringida apenas ao uso do sexo, não teria sido necessário haver mulheres especializadas e treinadas por anos a fio em tantas habilidades quanto às técnicas Ninja sugerem.
As técnicas de sedução faziam parte do treinamento Mas a kunoichi também era excepcional em outras áreas, como o envevenamento, disfarces e luta corporal |
Assim, apenas o ato de sedução ou da atração sexual seria o suficiente para coletar informações ou realizar missões, dentro dessa concepção, por que se treinar por anos uma mulher, se seria possível usar uma prostituta para realizar o mesmo serviço?
A Kunoichi estava sempre preparada tanto para o uso de habilidades pertinentes às mulheres, como também para o combate corporal e armado comum aos homens. Embora tivessem muitas peculiaridades, o seu aprendizado do Ninjutsu era igual ao dos Ninja, mas sua mente, tipo de estratégia e vantagens, obviamente eram diferentes.
As mulheres Ninja, além do Yuwaku no Jutsu (técnicas de sedução), eram treinadas também em Doku no Jutsu (técnicas de envenenamento), Henso Jutsu (técnicas de disfarce), no conjunto de armas e instrumentos próprios ao gênero feminino e ao seu comportamento, como por exemplo, o combate adaptado às suas vestimentas (pesados Kimono), adereços e aos seus calçados (zori ou geta). Mais que isso havia também treino físico para combate corporal, Kunoichi Tai Jutsu, que diferenciava e adaptava as práticas e estratégias do Shinobi Tai Jutsu (combate corporal do Shinobi).
A sociedade japonesa, nitidamente machista, não atribuía às mulheres qualquer tipo de periculosidade, sendo sempre tidas como o gênero delicado, incapaz de grandes atos de violência e geralmente subestimada mesmo em tomadas de decisões simples, como registrado no livro Onna Dai Gaku (livro de regras e etiqueta da mulher japonesa). Mais que isso, quando destoantes da sociedade, estando fora de seu papel tradicional, por vezes eram abandonadas, direcionadas ao suicídio, conventos ou tidas como doentes mentais. Essa concepção machista permitia que as mulheres pudessem manipular situações, se deslocar transitando por diversos locais e se inserir em contextos nos quais um homem jamais passaria despercebido.
"Não havia castelo tão bem guardado que uma kunoichi não pudesse entrar" (Velho ditado feudal japonês) |
Sendo assim, as Kunoichi eram enviadas em missões de subtração de informações, de espionagem e de combate indireto, pode-se falar em combate “invisível”. Invisível, pois agiam disfarçadas como feiticeiras, cantoras, dançarinas, camponesas, serviçais, artistas e, para tanto, treinavam constantemente habilidades ligadas aos disfarces, bem como aprendiam regras de conduta e técnicas de envenenamento. O treino de uma mulher era claramente com o objetivo de formar uma guerreira espiã habilidosa física e psicologicamente para encaminhar missões por meses e até décadas mantendo-se fiel ao seu objetivo.
REFERÊNCIAS E IMAGENS
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