sábado, 15 de julho de 2017

ATEMI é o objetivo do Aikido?

O artigo de hoje foi postado no blog AIKI PRO ( vejo o texto original aqui) em 02/09/2016. O autor é 4º Dan de Aikido e leciona no município de Camburiú (SC). O texto apresenta uma visão interessante de um tema polêmico entre os praticantes do Caminho da Harmonia: o uso do atemi ( golpe traumático). Longe de pretender ser definitivo, expõe de forma clara o pensamento da maioria dos aikidokas tradicionais, aonde deve-se executar a ténica com postura e timming ideais para se desferir o atemi. Desferir - ou não- é uma escolha sua. Optamos por colocar imagens diferentes do post original.

Boa leitura!

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Atemi é o objetivo do Aikido?


Sempre se fala sobre o Atemi como peça chave na execução das técnicas de Aikido e algumas declarações nos fazem refletir sobre este ponto.

Na entrevista de Hayato Osawa Shihan para Michel Thai em 2010 este assunto aparece de forma sutil com a seguinte declaração de Osawa Sensei: “Without atemi, Aikido is not plausible", ou seja, sem o Atemi, o Aikido não é plausível. Utilizando também a declaração clássica do livro de Gozo Shioda, onde ele dizia que Ueshiba considerava o Aikido como 70% atemi e 30% arresso, nós temos aqui um tema que pode gerar dúvidas e questionamentos:

Será mesmo o Atemi o objetivo final do Aikido? Se dependemos tanto do Atemi, será que não deveríamos treinar mais socos?

A questão do Atemi pode nos abrir duas hipóteses para reflexão:

A primeira é que, ao reduzir a eficiência do Aikido apenas na aplicação do Atemi, estamos menosprezando o rico repertório de chaves e imobilizações, que constituem uma importante parte do Aikido clássico. As “chaves e imobilizações” do Aikido realmente funcionam como defesa pessoal básica e são extremamente uteis no trabalho policial. Naturalmente este trabalho mecânico possui um limite, onde sua porcentagem de sucesso pode diminuir entre dois especialistas de Aikido por exemplo, que por conhecer as técnicas são capazes de anular sua eficiência utilizando o corpo de forma a impedir a sua execução, ou até mesmo quando existe uma diferença de peso e força muito grande entre duas pessoas as “chaves e imobilizações” começam a exigir uma aplicação muito avançada e sutil, o que também diminuem suas chances de sucesso. Da mesma forma, a aplicação destas mesmas técnicas contra praticantes de outras artes marciais, que se utilizam de sistemas mecânicos semelhantes, tem suas chances diminuídas por uma possível leitura da técnica, onde estratégias e bloqueios contra as “chaves e imobilizações” do nosso repertório são possíveis.
Sem o fator surpresa as técnicas do repertório de “chaves e imobilizações” diminuem suas chances de serem aplicadas com sucesso, porém de uma forma geral são inegáveis seus resultados como um sistema de defesa pessoal eficiente e um conjunto de técnicas para o uso policial.
O autor do artigo em ação

A segunda hipótese é pensar que para trabalhar o Atemi do Aikido teríamos que incluir treinos regulares de soco. Não é exatamente por ai. No mesmo livro em que o Sensei Gozo Shioda fala sobre a importância do Atemi ele também diz que isso esta relacionado a puro Timing, onde o mais importante é desferir o Atemi assim que percebemos que o oponente esta prestes a se mover. Perece estar muito mais ligado ao conceito de Irimi do que uma troca de socos. O conceito de entrar sobre o ataque nos protegendo, com possibilidades de atingir o alvo utilizando os braços como uma extensão da postura e não em uma atitude de desferir um soco. A potência do Atemi vem do Tai Sabaki, de um bom trabalho de pernas e da antecipação para encontrar o oponente no caminho. É um contra ataque. Um ataque dentro do ataque do oponente. É claro que isso envolve um risco e justamente por isso a sua realização com sucesso é cheio de potência, que pode inclusive nocautear o agressor. Nas minhas pesquisas um dia escutei de um professor experiente, já com o 7º Dan, que todas as técnicas do Aikido funcionam, basta deixar o seu oponente inconsciente primeiro . Brincadeiras a parte, em um nível avançado, o Aikido gera ao praticante através da repetição das técnicas clássicas, duas habilidades fundamentais para um combate, que é Irimi (entrar sobre o ataque) e Tenkan (esquivar, girar sobre o ataque). Dominando estes dois conceitos a aplicação do Atemi no formato do Aikido ganha mais credibilidade.

Hoje ao ver Osawa Shihan nos vídeos é possível notar claramente que ele tem um timing fora de série para utilizar o Atemi. Por mais que você veja Irimi Nage, Kokyu Nage, Shiho Nage nas suas demonstrações, o que impressiona é o timming onde ele faz a sua conexão com o seu Uke.
Osawa Hayato Shihan ( 2016)

Da mesma forma eu vejo meus estudos com o professor Bruno Gonzalez, que mesmo possuindo um trabalho mecânico de “chaves e imobilizações” fora do comum, ele mantém toda a sua construção técnica sobre o risco do Atemi. Da marcação da distancia correta e da identificação do perigo eminente do Atemi, as técnicas clássicas ganham espaço e oferecem soluções marciais com credibilidade. Observando o trabalho do Sensei Bruno parece que o limite mecânico das técnicas de “chaves e imobilizações” são expandidos por uma atitude marcial afiada com a presença do perigo real do Atemi o tempo todo, onde esta ambiguidade apresenta uma sensação de incerteza e hesitação para o oponente, diminuindo suas chances de bloquear ou impedir a aplicação de uma técnica e proporcionalmente aumentando as chances de sucesso do trabalho mecânico com “chaves e imobilizações”. Ao treinar com o Sensei Bruno primeiro trate de cuidar bem da sua distancia, dos seus contatos, pois você vai perceber rapidamente que precisa primeiro ficar longe do seu Atemi.

Bruno Gonzalez Sensei (2017)


De uma forma geral a pratica avançada do Aikido esta relacionada ao Atemi e sem dúvida é um habilidade que devemos construir com o nosso desenvolvimento técnico, porém a eficiência do Aikido, assim como em qualquer arte marcial, não pode ser construída em apenas uma técnica e sim no desenvolvimento da atitude correta diante do conflito, uma avaliação adequada da distância para execução de uma estratégia e uma visão clara para perceber as oportunidades para a execução da técnica mais adequada para cada situação.

Bons treinos!
Mário Tetto 4º Dan
Fepai Federação Paulista de Aikido
Instituto Sul Americano de Aikido




Imagens: 

1 comentários:

Bruno Giudicelli disse...

O texto coloca coisas muito interessantes. Com Leitura dele, com toda a discussão das últimas semana e com o que temos experienciado, Está me parecendo que, nesta discussão sobre atemi ou não atemi, não deve haver uma resposta única. Dizer que tem que usar atemi ou dizer que não pode usar atemi é colocar limites em algo que deve ser infindável. É Colocar na caixa.
Talvez a resposta esteja, não por acaso, no básico: irimi e tenkan. O texto expõe os dois conceitos muito bem. Irimi é "entrar sobre o ataque", enquanto tenkan é "girar sobre o ataque". Usar um ou outro dependerá da ação do atacante, do uke. Se o ataque é desequilibrado, descuidado, com muita energia, então tenkan. Deixa a energia passar, use o desequilíbrio causado para controlar. Por outro lado, se o ataque é medido, tem algum grau de controle ou cuidado, então provavelmente tenkan é suicídio. É o momento de usar irimi. Passar por cima do ataque, atingir o agressor antes que ele te atinja. Isso poderá dar a brecha necessária para controlar, para aplicar uma imobilização que permita atingir o objetivo do aikido diante de uma agressão: Controlar o atacante com o mínimo de dano em quem se defende e em quem ataca. Se o uke vem 100%, então nage deve ser nada, deve ser 0%. Deve ser vazio. Agora, se uke vem 80%, então nage deve ser 20%. Se uke vem 60%, então nage deve ser 40%. E, neste momento, irimi para mim é sinônimo de atemi. Talvez as duas máximas sejam essas:
- defenda, desequilibre e controle
Ou
- defenda, atinja e controle.

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