sábado, 12 de outubro de 2013

Entre a Coragem e a Derrota.

É comum o homem com espírito guerreiro, ao sofrer um revés, pensar da seguinte forma: 
“Preciso treinar mais e ficar melhor, me sinto envergonhado, sou um fraco, preciso ser mais agressivo, mais forte, ter mais raiva, ser menos covarde etc…”

Ainda que a idéia de usar a luta, o esporte de combate como um catalisador para nossas emoçoes e obstaculos seja bastante utilizada ( e de fato funciona por um tempo), penso que reagir assim é como tapar um buraco abrindo outro. Resolvemos um problema, e outro vem. O traumatizado tende a traumatizar outras pessoas, num  ciclo maldito que se repete indefinidamente. E aí surgem os questionamentos:
“Como essas essas emoções, obstáculos e impulsos influenciam minha mente e meu comportamento? E como lidar com eles?"

Nem sempre é a coragem qe te faz tao agressivo.
Às vezes é o medo...
Será que se tornar mais agressivo é ter coragem?  E se a instrução fosse diferente, fazendo com que o praticante tomasse consciência de como o seu ânimo e seu corpo são afetados pelo medo, raiva ou orgulho, percebendo como é possível diminuir a influência destas emoções e agir mais livre delas, fazendo o que tem de ser feito sem perder a lucidez e o relaxamento.


É importante aprender a usar essa habilidade para outros momentos da vida. Pode até soar contraditório, parecer que essas coisas não tem nada a ver com treino forte, suor, contusões, cortes, fraturas e tudo que envolve a prática de lutas e artes marciais, como se o caminho fosse óbvio e envolvesse necessariamente brutalidade, tensão, agressividade e competição. Não é nada disso! 
 
 
"Podemos entender “guerreiro” como uma tradução da palavra Tibetana “pawo”. Pa significa “bravo”, e wo a transforma em “a pessoa que é brava”. A tradição de guerreiros que estamos falando aqui é uma tradução de bravura. Você pode ter uma idéia sobre um guerreiro como alguém que incita a guerra. Mas nesse caso, não estamos falando de guerreiros como aqueles que vão pra guerra. A guerra aqui se refere à bravura e destemores fundamentais.
A bravura é baseada na superação da covardia e de nosso senso de ser machucados.
A abordagem do guerreiro é encarar todas essas situações de medo e covardia. O objetivo geral da guerra é não ter medo. Mas o fundo da guerra é o próprio medo. Para ser destemido, primeiro temos que encontrar onde o medo está.
O medo é o nervosismo, o medo é a ansiedade, o medo é o senso de inadequação, um sentimento que não somos capazes de lidar com os desafios da vida diária."
Chogyam Trungpa  (1939-1987) 

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