quinta-feira, 15 de outubro de 2015

O SENSEI


Hoje, 15/10/2015, diz do professor, fomos brindados com um delicioso texto da jornalista, historiadora, cientista social  e bacharel em direito Priscilla Gorzonni. Priscilla é praticante de aikido e capoeira.  É ainda autora do livro Abre as portas para os Santos Reis da Editora Fundação Pró-Memória, Animais nas Batalhas pela editora Matrix e Os benzedores que benzem com as mãos da editora UCG.  Criadora dos blogs: Mulheres no Aikido Priscila Gorzoni . O texto foi publicado pela primeira vez em 03/09/2015 no blog Mulheres no Aikido.

Aproveito a oportunidade para agradecer a todos os bons professores que tive - e que ainda considero meus mestres. À eles a minha eterna gratidão pelas valiosas lições ministradas.


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O sensei


Por: Priscila Gorzoni






No aprendizado do aikido a figura do sensei é fundamental. É ele que passará as primeiras lições para você trilhar o caminho do aikido. Ele será o seu exemplo, a referência.

O sensei além de passar o conhecimento, é também um formador de opinião, comportamento. Ele é o coração, o pensamento e a visão do dojo. É a figura principal, em que os frequentadores do dojo se miram.

Portanto ser sensei é uma grande responsabilidade que vai além de apenas ensinar a técnica.

Ele é uma figura primordial para o aprendizado do aikido, portanto é importante escolher um dojo em que você admire o sensei, tenha empatia por ele, acredite em seus ensinamentos e se sinta respeitada por ele.

A palavra sensei vem do japonês e é traduzido literalmente como: "pessoa nascida antes de outro". Ele é usado em geral após o nome da pessoa e significa professor.

Essa palavra também é usada para mostrar o respeito a alguém que atingiu certo nível de conhecimento em uma forma de arte ou habilidade. Os dois personagens que compõem o termo podem ser traduzido como: ´nascido antes`.

Em chinês o termo sensei é pronunciado como XianSheng, que é usado para tratar os professores de ambos os sexos.

No Japão o termo sensei também é usado para as pessoas dos dois sexos.

Em algumas escolas do zen budismo sensei é usado para se referir aos professores ordenados em um nível mais baixo. No entanto em outras do budismo o termo é designado para qualquer sacerdote independente da idade e do conhecimento.

Durante a minha caminhada no aikido eu tenho conhecido vários senseis, sou grata a todos, inclusive com os quais não concordei na postura, pois mesmo com esses aprendi muitas coisas.

Nessa caminhada, encontrei senseis que eram bem mais jovens do que eu, inseguros e com uma vivência menor. Em termos de aikido, obviamente ele sabia mais, era o sensei, mas em termos de vida, ele sabia menos, então eu era sensei dele (não digo isso narcisicamente), digamos assim. Digo isso em termos de vivência, de tempo de vida.

Isso acontece em vários dojos e nesses casos é necessário ter sensibilidade, compreender o seu lugar naquele espaço e ter uma leitura mais abrangente da vivência daquele sensei. Assim se aproveita ao máximo do conhecimento dele. Humildade é a palavra chave.

Também encontrei sensei machista, por sorte apenas um, e nesse caso foi mais complicado para mim. Nos primeiros meses eu levava, tentava ignorar o que via no dojo, mas com o tempo foi se tornando pesado ficar no local, a energia era ruim para mim. Infelizmente entrei em conflito com o sensei, os valores eram diferentes, a visão de vida era diferente e a forma de ver o aikido também era distinta. Não acho que os alunos devam ser clones de seus senseis, acredito que seja importante termos visões diferentes dos senseis e sermos respeitados pelas nossas diferenças, afinal aikido é isso adição, não subtração ou exclusão. Mas enfim, infelizmente não consegui conviver com pessoas com valores tão opostos aos meus. E hoje digo felizmente, pois foi um alivio ter saído daquele dojo, hoje estou feliz no dojo em que me encontro. Mas não consegui realmente ficar muito tempo nesse dojo ´machista´, pois o aprendizado começou a se enfraquecer, eu não progredia, por mais que treinasse firme e comecei a me desgastar muito energeticamente com os conflitos e a tentativa de dialogo. No fundo eu não acreditava naquele sensei, não o respeitava.

Praticar aikido exige paz, não é questão de se encontrar um local onde todos concordem com o seu ponto de vida, mas pelos menos um local em que não existam tantos antagonismos de pontos de vista, pelo menos estar em um local onde os valores sejam semelhantes.

Claro que com o tempo de aprendizado do aikido, você passa a lidar melhor com esses conflitos, não se desgasta tanto, passa a ver as coisas com mais tolerância, de uma forma mais compreensiva, tenta compreender melhor o lugar do outro, sem mudar a sua identidade e opinião. Mas em relação aos valores, convicções e códigos morais, esses não mudam. 

Lidar com dojos muitas vezes hostis, são alguns dos desafios que algumas mulheres, pelo menos são alguns testes que vivi nessa caminhada.  Percebo que a minha tolerância a senseis e dojos machistas é menor do que na maioria das mulheres. Essa é uma questão de identidade.

Hoje sou muito feliz com o meu sensei. E posso dizer que tive sorte, todos os senseis que encontrei vive em harmonia. Aprendi com eles a me tornar uma pessoa melhor. Aprendo todos os dias com os senseis e os colegas do aikido.    

Enfim, todos os caminhos do aikido nos levam as reflexões e são testes para vermos se realmente queremos trilhar o caminho do aikido, que tem grandes desafios para as mulheres, não só físicos, emocionais sociais.

A escolha de um dojo tem uma ligação direta com a de um sensei. Quando se escolhe um dojo, na verdade está se escolhendo um sensei. Essa escolha, em minha opinião, tem que levar em conta vários requisitos, além do conhecimento, trajetória, indicação e domínio da técnica, empatia, entre outros fatores. Essa escolha irá depender da personalidade da aluna.

Existem alunas que prefere um sensei distante com o qual não se tem muito dialogo, que segue o ´sistema japonês`. Já existem alunas, nesse caso, eu me incluo, que buscam um sensei aberto ao dialogo, sincero em suas colocações, que veja as alunas como vê os alunos, que tratem todos de forma igual e seja sensível as diferenças.

O importante é que a aluna acredite no trabalho do sensei, se sinta bem nesse dojo, pois só assim se segue o caminho. Penso que todos somos seres em construção, penso que todos somos os nossos próprios ´senseis`, penso que todos nós seremos um dia sensei. E eu de uma certa forma já tenho um desenho da sensei que desejo ser.

Priscila Gorzoni 
Interessada em boas conversas, artes marciais bichos e vampirologia,
Movida por desafios, desde agosto deste ano desenvolve projetos 
para mostrar a importância feminina no aikido
















Imagens:
http://www.japaneseculturecenter.com/wp-content/uploads/2013/08/Aikido-background.jpg
http://www.aikido.israel.net/Content/img/Seiza.jpg

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