quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A dificuldade em se ver uma técnica e repeti-la.



Quando você entra num dojo pela primeira vez e vê o instrutor mostrando algo e, em seguida, as pessoas praticando, as coisas realmente parecem simples. Se, eventualmente, há um aluno com dificuldades, o espectador tende a se perguntar sobre o porquê do sujeito não conseguir repetir algo tão óbvio. Claro que essa sensação muda quando passamos de espectadores a praticantes e começamos a compreender a quantidade de trabalho e esforço que alguém teve para que aquilo parecesse fácil.

De qualquer forma, vejo algumas direções a seguir.

Primeiro de tudo, é importante praticar o básico com regularidade e insistência. Parece simplório, mas ajuda muito.

Por exemplo, há 4 movimentações básicas no aikido: kaiten, irimi, tenshin e tenkan. Se isso estiver claro na sua mente (e para o seu corpo), fica muitíssimo mais fácil você entender as combinações e derivações. Mas, em vez disso, muita gente encara cada técnica de aikido como uma coisa nova e única. Ora, o que há são elementos básicos que, uma vez misturados, resultam em coisas diferentes. Mas os ingredientes são (quase) sempre os mesmos! A grande maioria dos diferentes pães que você já comeu é feita com farinha de trigo, fermento, água e sal. Ou seja, os mesmíssimos ingredientes, quando misturados de forma diferente reproduzem resultados diversos. Pense nisso por alguns segundos antes de ler o próximo parágrafo.


Aposto que você não pensou e veio direto pra cá… E isso tem tudo a ver com este segundo ponto. Tente não pular etapas. Derrubar o uke pode ser a parte mais divertida da técnica, mas também é a última parte. E, geralmente, a parte mais fácil. Mesmo assim, muita gente foca somente nisso, deixando pra trás toda a construção da técnica que leva ao arremesso final. Na minha opinião, existe uma ordem lógica para que se execute uma técnica. Não se trata de uma regra, nem tampouco de uma verdade absoluta. É apenas a forma como eu encaro isso. Outros instrutores podem pensar de forma diferente. Eis o meu jeito:

1.Tai Sabaki (movimentação de pés). Basicamente, antes de tentar fazer funcionar ou fluir, entenda as direções. Desconstrua a movimentação. Fica muito mais fácil quando, em vez de decorar um monte de movimentos complicados, você simplesmente entende que é: kaiten > irimi > outro kaiten > tenkan;

2.Se os seus pés já sabem onde devem ir, agora é a vez dos braços e mãos;

3.Agora tente relaxar e fazer de forma mais fluida e contínua. Fica mais fácil lapidar a partir daí.

4.Como está sua postura? E a distância (ma-ai)? Como você está estabelecendo contato (de-ai)? Você está vulnerável?

5.Okay, agora você já comeu todos os seus vegetais e tem direito à sobremesa. Hora de projetar o uke e de tentar “fazer funcionar”. Divirta-se.

6.Passou pelas 4 etapas? Ótimo, agora, sistematicamente, passe por todas elas novamente. Faça isso uma, duas, dez, dez mil vezes, sempre tentando perceber algo novo. Divirta-se em cada uma das vezes.

“Ah, Tharso… Mas então eu devo ficar treinando cada um desses aspectos separadamente e só quando eu estiver bom em tudo é que eu posso concluir a técnica?”

Por favor, não me entenda errado: não acho que você só deve derrubar seu parceiro depois de dominar cada ponto anterior. O que quero dizer é que o foco do seu treino deve estar de acordo com o que você é capaz de absorver em cada momento. Se você quiser fazer seu aikido “funcionar” (no sentido de defesa pessoal) logo no início, sua experiência será frustrante. Mas, se em vez disso, você entender que há um longo caminho até essa “eficácia”, cada etapa fica bem mais estimulante e divertida. Experimente passar pelos passos que propus sem se cobrar muito no início, lembrando que esses passos são cíclicos. Ou seja, a ideia é sempre passar pelos mesmos aspectos, melhorando-os a cada vez.

Tharso Vieira

O texto foi escrito em fevereiro de 2010 pelo sensei Tharso Vieira, que gentilmente concordou em ceder seu material. Sensei Tharso é jornalista e Dojo-Cho do Seichin Dojo e é ligado ao Shihan Yamada, do New York Aikikai. Normalmente, apenas citamos o texto e o autor, mas dada a riqueza do material, optamos por transcreve-lo direto. Vez que foi postado pela primeira vez em outro site, solicitamos que quaisquer comentários a respeito sejam postados diretamente no site original do autor a fim de engrandecer as conversações originais a respeito

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