Uma única chance
James P. Lenfesty
Perca (Perca fluviallis) |
Quando sua vara envergou, ele soube que algo enorme estava na outra extremidade. O pai observou com admiração enquanto o menino habilmente puxava o peixe ao longo do cais. Por fim, ele puxou o exausto peixe para fora da água com todo cuidado. Era o maior que ele ja vira, mas era uma perca.
O menino e seu pai olharam para o belo peixe com as guelras se mexendo para frente e para trás à luz da lua. O pai acendeu um fósforo e consultou o relógio. Eram 10 horas da noite - duas horas antes da abertura da temporada. Ele olhou para o peixe e, a seguir, para o menino.
- Você terá que jogá-lo na água, filho - o pai disse
- Papai! - exclamou o menino.
- Haverá outros peixes - o pai voltou a falar.
- Não tão grande quanto este - argumentou o menino.
Os dois olharam em torno. Não havia outros pescadores nem barcos por perto naquela noite enluarada. O filho voltou a olhar para o pai. Embora ninguém os tivesse visto, nem pudesse saber a que horas ele tinha pescado o peixe,o menino podia perceber, pela firmeza da voz do seu pai, que a decisão não era negociável. Então soltou lentamente o anzol da boca da enorme perca e a devolveu para a água escura.
O peixe sacudiu seu forte corpo e desapareceu. O menino suspeitava que jamais veria outro tão grande em sua vida. Isso aconteceu há 34 anos. A cabana ainda se encontra na ilha no meio do lago, e hoje o menino é um bem-sucedido arquiteto em Nova York. Agora é ele quem leva os filhos para pescar no mesmo cais.
Ele estava certo. Nunca mais pescou um peixe tão magnífico quanto aquele. Mas o peixe aparece em sua mente repetidamente todas as vezes que enfrenta uma questão de ética.
Porque como seu pai lhe ensinou, a ética é uma simples questão de certo ou errado. O difícil é a prática da ética. Não fazemos o que é correto quando ninguém está olhando? Passamos na frente dos outros usando artíficios? Subornamos o guarda de trânsito para evitar uma multa? Usamos informações confidenciais para nos beneficiar na compra de ações?
Não faríamos nada disso se tivéssemos aprendido a colocar o peixe de volta na água quando éramos jovens. Porque teríamos aprendido o valor da verdade. E contaríamos essa história a nossos amigos e netos com alegria e orgulho, sabendo que crescemos e nos fortalecemos a cada ato desses.
Ninguém teria sabido do peixe se pai e filho tivessem concordado em ficar com ele ou simplesmente tivessem mentido sobre a hora em que o pescaram. Provavelmente ninguém teria se importado com a hora se o feito tivesse se tornado público. Portanto, naquela noite, as únicas verdadeiras pressões que governaram a decisão do pai e do filho eram internas. Pressões vindas da fidelidade aos próprios valores e da confiança que um depositava no outro. Eles escolheram o caminho mais nobre da honestidade, convictos de que ela é a verdadeira fonte de segurança pessoal e de tranquilidade emocional.
Referência: Paulo V. Kretly Blog
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