segunda-feira, 23 de julho de 2012

Uma única chance


Uma única chance
James P. Lenfesty

Perca (Perca fluviallis)
Ele tinha 11 anos e sempre que podia ia pescar no cais da cabana da sua família, numa ilha no meio de um lago de New Hampshire. Na véspera da abertura da temporada de pesca da perca, o menino e seu pai foram até o lago no início da noite e pescaram vários outros tipo de peixes usando minhocas como isca. A seguir, ele amarrou uma pequena isca prateada e praticou arremesso de linha. A isca bateu na água e produziu coloridas ondulações ao pôr-do-sol e, mais tarde, ondulações prateadas quando a lua se ergueu sobre o lago.
Quando sua vara envergou, ele soube que algo enorme estava na outra extremidade. O pai observou com admiração enquanto o menino habilmente puxava o peixe ao longo do cais. Por fim, ele puxou o exausto peixe para fora da água com todo cuidado. Era o maior que ele ja vira, mas era uma perca.
O menino e seu pai olharam para o belo peixe com as guelras se mexendo para frente e para trás à luz da lua. O pai acendeu um fósforo e consultou o relógio. Eram 10 horas da noite - duas horas antes da abertura da temporada. Ele olhou para o peixe e, a seguir, para o menino.
- Você terá que jogá-lo na água, filho - o pai disse
- Papai! - exclamou o menino.
- Haverá outros peixes - o pai voltou a falar.
- Não tão grande quanto este - argumentou o menino.
Os dois olharam em torno. Não havia outros pescadores nem barcos por perto naquela noite enluarada. O filho voltou a olhar para o pai. Embora ninguém os tivesse visto, nem pudesse saber a que horas ele tinha pescado o peixe,o menino podia perceber, pela firmeza da voz do seu pai, que a decisão não era negociável. Então soltou lentamente o anzol da boca da enorme perca e a devolveu para a água escura.
O peixe sacudiu seu forte corpo e desapareceu. O menino suspeitava que jamais veria outro tão grande em sua vida. Isso aconteceu há 34 anos. A cabana ainda se encontra na ilha no meio do lago, e hoje o menino é um bem-sucedido arquiteto em Nova York. Agora é ele quem leva os filhos para pescar no mesmo cais.
Ele estava certo. Nunca mais pescou um peixe tão magnífico quanto aquele. Mas o peixe aparece em sua mente repetidamente todas as vezes que enfrenta uma questão de ética.
Porque como seu pai lhe ensinou, a ética é uma simples questão de certo ou errado. O difícil é a prática da ética. Não fazemos o que é correto quando ninguém está olhando? Passamos na frente dos outros usando artíficios? Subornamos o guarda de trânsito para evitar uma multa? Usamos informações confidenciais para nos beneficiar na compra de ações?
Não faríamos nada disso se tivéssemos aprendido a colocar o peixe de volta na água quando éramos jovens. Porque teríamos aprendido o valor da verdade. E contaríamos essa história a nossos amigos e netos com alegria e orgulho, sabendo que crescemos e nos fortalecemos a cada ato desses.

Ninguém teria sabido do peixe se pai e filho tivessem concordado em ficar com ele ou simplesmente tivessem mentido sobre a hora em que o pescaram. Provavelmente ninguém teria se importado com a hora se o feito tivesse se tornado público. Portanto, naquela noite, as únicas verdadeiras pressões que governaram a decisão do pai e do filho eram internas. Pressões vindas da fidelidade aos próprios valores e da confiança que um depositava no outro. Eles escolheram o caminho mais nobre da honestidade, convictos de que ela é a verdadeira fonte de segurança pessoal e de tranquilidade emocional.

Referência: Paulo V. Kretly Blog

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